terça-feira, 10 de dezembro de 2024

Joe Biden: o incendiário.

Joe Biden “foi obrigado” a desistir da corrida às eleições presidenciais norte americanas por motivos meramente políticos. O partido democrata deu-se conta, tarde demais, que a sua idade e condição física, bem como o seu estado mental estavam a deitar tudo a perder, e as sondagens comprovavam-no semana após semana. Foi tão tarde que não lhes restou outra alternativa que não fosse atirar Kamala Harris para o campo de batalha. Durante uns dias a situação parecia querer mudar, mas no final, a derrota foi estrondosa.

Pelo mundo surgiram desde logo grandes indignações, presságios tão assustadores que me fizeram palavras de Passos Coelho quando em 2016 se despediu dos deputados do PSD dizendo: “Gozem bem as férias que em Setembro vem aí o diabo.” Biden também se está a despedir dos Americanos e do Mundo, mas ao contrário de Passos Coelho ele não promete para janeiro a vinda do diabo, ele próprio abre já a porta ao diabo, convida-o a entrar e dá-lhe carta branca para fazer das suas. A decisão de autorizar a Ucrânia a atacar o interior da Rússia com mísseis de longo alcance é pura malvadez política, é uma decisão que põe em risco a segurança mundial, e é tomada única e simplesmente pelo facto de Donald Trump ter ganho as eleições. Trata-se de uma mera armadilha para Trump, para o obrigar a suspender esta decisão e passar por mau da fita! Ser o mau da fita é coisa que de certeza não preocupa minimamente Donald Trump.

Nunca percebi a justificação dada tanto pela América como pela Europa de não autorizar a Ucrânia a atacar, se ajudamos um país dando-lhe armas e munições não devemos impor condições sobre a forma como ele as vai utilizar. É a mesma coisa que dar uma esmola a um pobre e não o autorizar a comprar doces porque lhe vão fazer mal aos dentes. Indo buscar aqui uma inspiração futebolística, a melhor defesa é o ataque, e quem joga para empatar, normalmente perde. A América justificava a proibição de uso de mísseis por serem de fabrico norte-americano, mas a maior parte deles nem sequer são lá fabricados, são de fabrico francês e britânico, apenas tinham o sistema de navegação feito na América. Autorizar agora a Ucrânia a atacar é quase uma ofensa.

Entretanto, Putin mantém o seu discurso ameaçador, e enquanto não houver alguém que verdadeiramente lhe levante a voz, não vai mudar de tom. Na televisão Russa ouvem-se por vezes notícias que afirmam que “Conseguimos atingir Londres em 13 minutos e Paris em 9 minutos.” Putin afirma que testou um novo modelo de míssil balístico de médio alcance, mas que informou os EUA desse teste, que o mesmo foi um ensaio para agora poder começar a sua produção em série. Ao mesmo tempo, o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov, considerou que o uso pela Ucrânia de mísseis de longo alcance é um sinal claro de que o Ocidente quer escalar o conflito, e que vai responder diretamente a esses países, afirmando mesmo: “Quem está a lançar esses mísseis não é a Ucrânia, são os países que lhos forneceram.” E pior, Moscovo volta a justificar que o uso de armas nucleares pode ser a resposta a qualquer ataque a território russo.

O conflito está a entrar numa fase demasiado perigosa, e quem vai em janeiro ter um papel decisivo no seu desenvolvimento é, além de perigoso, louco… Donald Trump. Obviamente que não vai terminar a guerra com um telefonema. Nem lhe interessa muito, até porque já deve estar a ter grandes pressões do setor empresarial ligado ao armamento. Se a guerra acabasse, a quem essas empresas iriam depois vender armas e munições? Alimentar a guerra para os lados de Israel e do Irão não seria suficiente. Na minha humilde opinião, a Ucrânia nunca mais vai recuperar os territórios perdidos, e quanto mais tarde abdicar, mais território perderá. (E acredito mesmo que é isto que vai acontecer, Zelensky nunca irá aceitar perder um metro quadrado que seja.) Apesar de tanto a América como o Ocidente terem dito que nunca iriam deixar de apoiar a Ucrânia, mais tarde ou mais cedo vão fazê-lo. Se o não fizerem, teremos mesmo uma guerra de proporções mundiais. Países como a Noruega, Finlândia e Suécia já estão a preparar as suas populações para o pior. Talvez fosse o momento de outros também o fazerem.

Pela leitura das minhas últimas crónicas, os leitores do Notícias de Coura decerto acham que me tornei pessimista e um bocadinho depressivo. É melhor não lhes contar que tripliquei o stock de água, atum, massa, arroz e feijão. A minha geração nunca imaginou viver uma guerra, também nunca imaginámos viver uma pandemia.


Crónica publicada na edição 491 do Notícias de Coura, 3 de dezembro de 2024




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