As últimas eleições legislativas foram há um ano. Parece que está na altura de voltar às urnas.
A atualidade política dos últimos dias tem sido marcada pelo caso dos negócios da empresa de Luís Montenegro, ou será melhor dizer da ex-empresa? Ou até, do ex-1.º Ministro!? Sobre este assunto não posso perder a oportunidade de deixar aqui algumas considerações:
- Luís Montenegro foi descuidado, desatento, irresponsável… ou então pensou que os jornalistas não lhe iriam vasculhar o passado e tentar descobrir qualquer coisinha! Pior, continua a pensar que somos todos parvos e achamos a situação normal. Eu até acredito na seriedade do homem, mas que não parece, não parece.
- Pedro Nuno Santos teve uma frase que explica tudo: “A empresa é Luís Montenegro.” E isso é óbvio. Não interessa quem são os acionistas, os funcionários ou os colaboradores, todas os clientes estão lá pela pessoa do 1.º Ministro. E não é pelo trabalho dele, porque provavelmente ele nem fazia nada, mas sim pela influência que um dia possa vir a ter. A maior riqueza que os políticos têm quando abandonam os seus cargos são os conhecimentos que trazem e as pessoas que conheceram, sabem melhor que ninguém como funciona o “sistema”, seja lá isso o que se quiser imaginar.
- O PCP caiu na armadilha do discurso de Luís Montenegro quando se apressou a dizer que iria apresentar uma moção de censura. Devia ter esperado. Bastava que toda a oposição afirmasse não ter confiança e, portanto, esperar pela apresentação da moção de confiança. Mas as coisas agravaram-se de tal forma no dia de hoje*, que a queda do governo está por dias.
- O Senhor Presidente tem andado calado, e bem, mas hoje não resistiu e até já fala em datas para as eleições. Nunca um Presidente convocou tantas eleições antecipadas como Marcelo Rebelo de Sousa. Espero que o próximo Presidente ponha os políticos todos em sentido!
- A menos que algo de muito escandaloso aconteça, temo que os próximos resultados eleitorais tornem o futuro ainda mais incerto. Embora eu gostasse que o Chega tivesse menos gente na Assembleia da República, a bem da imagem da instituição, receio que tal não aconteça. O eleitorado do Chega gosta daquilo que temos visto. Tal como o eleitorado de Donald Trump gostou da cena vergonhosa da conversa com Zelensky. Quanto ao vencedor das eleições até acredito que possa ser o PS, mas isso talvez seja o pior que pode acontecer a Pedro Nuno Santos. Como irá ele formar maioria? Dificilmente o PCP e o Bloco subam os seus já fracos resultados, e o Livre e o PAN não chegam para nada. Quem resta!? O Chega!? Iria o Chega viabilizar um governo de esquerda!?
- A minha previsão é uma aposta arriscada, mas que receio possa vir a acontecer: PS ganha, mas não consegue formar governo; PSD perde, Montenegro abandona a liderança e o próximo líder faz um acordo com André Ventura. Este é um cenário assustador, e que só não vai ser um desastre autêntico se o líder do PSD for alguém que consiga ter mão em André Ventura. Quem será!? Em 2021, num debate para as presidenciais, André Ventura demorou 6 segundos a responder à pergunta: “Seria mais fácil o Chega entender-se com o PSD se fosse Pedro Passos Coelho o presidente?” Será que ele vem aí de novo?
Termino com a certeza de que não me vai faltar assunto para as crónicas que se avizinham, a política nacional está a queimar. E assim se esquecem os problemas na saúde, na educação, na habitação, na criminalidade… ou será que já não existem?
* Escrevo este artigo um dia depois do prazo que normalmente cumpro. Se calhar até calhou bem, se o tenho escrito a tempo talvez o assunto fosse o mesmo, mas o título seria obviamente diferente, e muito menos atrativo!
Crónica publicada na edição 497 do Notícias de Coura, 11 de março de 2025