Tal como escrevi na anterior crónica, o título já estava preparado, só tenho mesmo de esperar até ao final do dia das eleições para que a crónica fique pronta. Estou a começar a escrever no dia das eleições, fui exercer o meu dever cívico depois de almoço, e como o tempo está feio e não me apetece sentar já no sofá sob pena de adormecer, vou já alinhavar umas duzentas ou trezentas palavras. Não sou nenhum adivinho, muito menos um comentador político cheio de fontes e informações sobre sondagens, mas a instabilidade governativa vai continuar, qualquer pessoa consegue ver isso. Enquanto se continuar a colocar o Chega fora da equação, não há maiorias à direita, e muito menos à esquerda. O Sr. Presidente da República disse há dias que só dará posse a um governo que garanta condições de estabilidade, não estou bem a ver como o irá fazer! Irá encostar André Ventura à parede e obrigá-lo a garantir a estabilidade de um governo de Montenegro? Ou será que vai obrigar Montenegro ou Pedro Nuno Santos a suportar o governo do outro? Não vejo que alguma destas coisas aconteça, e nem sequer lhes vejo muito sentido. Como não quero deixar as previsões para logo à noite, aqui ficam: AD vence e sobe o número de deputados; PS desce o número de deputados e Pedro Nuno Santos apresenta a demissão; IL e Livre sobem; PCP e BE, na melhor das hipóteses, mantêm os deputados que têm, o PAN fica sem representação parlamentar e o Chega desce. (Esta última previsão é mesmo um desejo!)
Pois bem, escrevo agora ao final da tarde do dia seguinte às eleições. Enganei-me, especialmente naquilo que mais desejava. O Chega é definitivamente um caso sério de sucesso, até agora ninguém encontrou a forma de combater este partido, alegadamente perigoso. Se em cinco anos já chegou a segunda força política, já não sou capaz de me rir quando oiço André Ventura dizer que vai ser 1.º Ministro. A democracia tem este problema de nos irritar quando não nos agradam os resultados. Enganei-me também quanto ao PAN, afinal, aquele discurso vazio e irritante de Inês Sousa Real continua a ter adeptos. E quanto ao Bloco de Esquerda, já se deve ter arrependido de em 2022 ter ajudado a derrubar o governo de António Costa, desceu de dezanove para cinco deputados, agora ficou com um. Dificilmente não será o início do fim. Acredito que a notícia de que o Bloco terá despedido, entre 2022 e 2024, cinco trabalhadoras que tinham sido mães há pouco tempo, foi um golpe decisivo. Ter continuado a encher a sua agenda com a defesa das mulheres depois disso, foi uma péssima ideia.
Foi uma noite eleitoral terrível para o PS e para Pedro Nuno Santos, não surpreende a derrota, surpreende a descida, e o pior mesmo é provavelmente ficar com menos deputados que o Chega depois de contados os votos dos círculos da emigração. O líder que se segue terá de ser muito corajoso, vai enfrentar uma travessia do deserto, terá que ser extremamente habilidoso para conseguir não dar a mão ao governo sob pena de perder identidade, mas não provocar mais crises políticas, pois como se viu, só beneficiam o Chega.
Para terminar, apesar das palavras de André Ventura a dizer que fará sempre o melhor para os portugueses, obviamente que quando o Chega deixar de ser um partido de protesto, quando começar a alinhar nas conversas da AD ou do PS, perde votos. E André Ventura sabe muito bem isso, só com crises políticas, casos, casinhos e confusões, ele pode ter protagonismo. (Até quando fica doente ele ganha protagonismo e votos, as horas e horas que a comunicação social lhe dedicou, atrás das ambulâncias e à porta dos hospitais, ajudaram e de que maneira a melhorar a votação.) Quando serão as próximas eleições? Não sei. Mas dificilmente a legislatura terá quatro anos.
Uma última linha para dar os Parabéns ao Sporting pelo justo título de campeão nacional.
Crónica publicada na edição 502 do Notícias de Coura, 27 de maio de 2025

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