Em maio de 2016 escrevi uma crónica intitulada “O circo das gravatas!” Os deputados brasileiros votavam o impeachment à Presidente Dilma Rousseff, e eu admirava-me com as intervenções absurdas de alguns deles. Nos últimos dias estive atento a algumas das intervenções dos deputados portugueses na Assembleia da República, enquanto no Brasil dá vontade de rir, aqui entre nós a situação só pode envergonhar quem se der minimamente ao respeito. Alguns deputados que estão na nossa Assembleia da República têm comportamentos que estão ao nível das tascas mais brejeiras e mal frequentadas que possamos imaginar. Como portugueses temos mesmo de olhar para tudo isto e ter consciência que é esta gente que nos representa e que toma decisões que influenciam a nossa vida. É nestas alturas que eu percebo as razões que levam muita gente a abster-se e a não votar.
Começo pelo desagradável momento em que o deputado Filipe Melo do Chega envia beijinhos à deputada do PS Isabel Moreira, escrevi desagradável porque me pareceu a palavra mais suave para substituir todas aquelas que me vieram à cabeça: nojento, asqueroso, repugnante e imundo. Situação absolutamente vergonhosa, um vice-presidente da Assembleia da República, em plena sessão de trabalho a ter um comportamento daqueles. Comparado a isto, os corninhos que Manuel Pinho fez em 2009 eram uma mera brincadeira. Nessa altura os ministros demitiam-se por coisas assim, nos dias de hoje, não há vergonha, tudo se pode fazer na mais inaceitável impunidade. Já na anterior legislatura tinham vindo a público algumas das frases com que os deputados do Chega brindavam as deputadas assumidamente lésbicas: ou lhes chamavam vacas ou mugiam à sua passagem. Numa outra altura, a deputada Rita Matias chamou “senil” à deputada socialista Edite Estrela. Quando o Presidente Brasileiro Lula da Silva discursou na Assembleia da República, os deputados do Chega protestaram energicamente, batendo com as mãos nas mesas e mostrando cartazes onde se podia ler: “Chega de corrupção.” Rita Matias tinha um cartaz diferente, dizia “Lugar de ladrão é na prisão.” Estaria já a adivinhar o futuro do amigo Bolsonaro!? Há cerca de um ano o Chega protagonizou outro momento lamentável quando pendurou tarjas de protesto nas janelas da Assembleia da República. Em todos estes momentos de desrespeito pela instituição há um denominador comum, o partido que se diz de fora do sistema, e que afirmou querer implodir com o mesmo. Alguém tem de ter mão nesta gente, sob pena de tornar a Assembleia da República um local pouco aconselhável para se frequentar. (Há muitos anos fui com alguns alunos visitar o trabalho dos deputados, atualmente seria incapaz de o fazer, se eles vissem aqueles comportamentos eram bem capazes de achar que os podiam replicar na sala de aula.) Já esta crónica estava alinhada quando mais um momento hilariante acontece: Pedro Frazão, do Chega, acusa Hugo Soares de o ameaçar com porrada, quando na verdade o que ele lhe queria dar era a morada! Estas situações têm muito mais piada no parlamento japonês, quando os deputados se zangam partem mesmo para o confronto físico.
Em todos os locais de trabalho há momentos que podem ser divertidos e descontraídos, mas nunca atingir o limite da falta de educação. Paulo Núncio, deputado do CDS e defensor da tourada, foi colhido por um bezerro em Vila Franca de Xira. Dias depois, quando começava a sua intervenção na AR foi brindado pela oposição com um sonoro “Olé!”. O próprio Paulo Núncio riu-se com a situação, e os trabalhos continuaram normalmente. Saber fazer humor de forma inteligente não está ao alcance de todos.
Já basta de coisas tristes e feias, está na fora de terminar este texto e quero fazê-lo com algo extraordinário, a capa da última edição do Notícias de Coura dava destaque às meninas que são o vosso orgulho: o Coura Voce. Quando penso nalgumas coisas que Coura tem, especialmente nas áreas da educação e da cultura, lembro-me daquela canção que certamente conhecem: “O que é que Coura tem, tem tudo como ninguém!”
Crónica publicada na edição 510 do Notícias de Coura, 7 de outubro de 2025
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