terça-feira, 11 de novembro de 2025

Chega, Burca e Benfica

Escrevi a última crónica antes do dia das eleições legislativas. Tal como referi na mesma, só me preocupavam os resultados de três freguesias, e em todas elas as minhas previsões se comprovaram. Foi mesmo por distração que me esqueci de mencionar o município onde trabalho, o Montijo. Na noite das eleições estava apenas preocupado com o resultado de uma Junta de Freguesia, onde o candidato por um Movimento Independente era (é) meu colega de trabalho e no qual deposito grande confiança. É um jovem cheio de vontade de trabalhar e com uma capacidade de iniciativa, nomeadamente através do associativismo, que nunca vi em lado algum. Embora me tenha lembrado ao final da tarde e enviado uma mensagem de boa sorte na contagem dos votos, só me voltei a lembrar do Montijo quando lá para as onze da noite, oiço o Ricardo Costa na SIC Notícias dizer que o “o Montijo está prestes a virar para o Chega.” Passou-me imediatamente o sono, entre mensagens e consultas a sites e a várias redes sociais, só me fui deitar às tantas, quando a contagem acabou e o Montijo permanecia em mãos democratas. Não estranho o facto de o Chega ter muita votação, o que eu acho incompreensível é que muitos dos seus apoiantes, e alguns nem sequer votam, são imigrantes, aqueles que o partido de André Ventura diz serem necessários para trabalhar e que são bem-vindos se vierem por bem, mas que faz tudo para lhes fechar a porta e se possível, despachá-los de volta ao seu país. (Eu também considero há muito que tem de haver limites à entrada de estrangeiros, e acima de tudo não permitir que vivam em condições desumanas, mas alinhar no discurso da extrema-direita é inaceitável).

A proibição da burca, e outros disfarces parecidos, já há muito deveria estar legislada no nosso país, não havia necessidade de esperar tanto tempo para agora dar o mérito da medida ao partido Chega. Mais do que uma veste religiosa, a burca é, tal como uma máscara de Carnaval, uma forma de ocultação do rosto, colocando em causa a segurança e identificação do seu portador em locais públicos. Irrita-me ouvir na televisão algumas mulheres afirmarem que essa proibição é uma limitação da sua liberdade, não será maior limitação a sua obrigatoriedade, proibindo-lhes mostrar o rosto? (na verdade elas andam de burca por obrigação, não por vontade). Imaginem só que uma mulher, fazendo valer o seu direito de usar a burca, vai assim vestida fazer o exame de condução, ou até um exame de acesso à Universidade. Será mesmo ela que está por detrás das vestes!? Quando visitam determinados países as mulheres europeias têm de tapar o cabelo, se temos de respeitar os costumes desses países, é justo que também respeitem os nossos. Obviamente que o partido Chega, à boleia da burca e da ideia de garantir a segurança, quer é fazer um ataque a determinados povos. O Chega continuará a fazer aquilo que os eleitores lhe permitirem. (A democracia tem destas coisas). Aliás, é pelo facto de a democracia ser o que é, que André Ventura tem o direito de dizer que “eram necessários 3 Salazares neste país”, tivesse ele sofrido o que muitos portugueses sofreram, não seria tão saudosista. Gente com a idade de André Ventura só fala com saudade dos tempos da ditadura se for esse o regime que ambiciona para o futuro.

A primeira volta das eleições do Benfica bateu o recorde mundial de número de votantes, foram mais de oitenta e cinco mil sócios que exerceram o seu direito! Segundo uma notícia do observador, “o Benfica teve mais votantes do que 98% dos municípios na autárquicas”! Para aqueles que ainda têm a ousadia, ou desfaçatez, de questionar a grandeza do Benfica, esta é mais uma prova da grandeza do clube, e mais uma prova de que no nosso país, o futebol interessa muito mais ao povo que a política. Os portugueses esperam horas na fila para votar no Benfica, esperam horas para entrar para um concerto musical, para um último adeus a uma figura conhecida e também para uma celebração religiosa. Quantos de nós esperariam três ou quatro horas para votar numas eleições legislativas? (Preparava-me para dizer que eu não, mas depois lembrei-me que já em tempos fiz mais de 500km para votar em José Sócrates!)

Crónica publicada na edição 512 do Notícias de Coura, 4 de novembro de 2025






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