domingo, 27 de julho de 2025

Anões, telemóveis, Sócrates e Gyökeres

Está quase a chegar o mês de agosto, das férias, do festival de Coura e da pausa da minha obrigação de escrever uma crónica para o Notícias de Coura de duas em duas semanas. Ando mesmo com falta de ideias e a política está em lume brando, nada de relevante se tem passado que justifique o meu trabalho. (Agora que penso nisto, acho que eu é que me estou a desinteressar cada vez mais do assunto, tenho andado meio desligado da política nacional e internacional). Mais uma vez, vou pegar em meia dúzia de coisas que fui apanhando nas notícias dos últimos dias e fazer aqui uma espécie de pacote que me salve e que não aborreça dos leitores. Obviamente que a primeira palavra do título é meio caminho para despertar a curiosidade!

Anões: Lamine Yamal, jovem jogador do Barcelona e da seleção espanhola atingiu a maioridade e decidiu festejar em grande, uma festa privada com mais de duzentos convidados e onde o uso de telemóveis estava proibido. Pelos vistos, além de futebolistas, influencers e artistas, estiveram na festa prostitutas e anões. Espanha indigna-se e até promete investigar uma vez que existe uma lei que proíbe "espetáculos ou atividades recreativas em que se use pessoas com deficiência para provocar a piada ou o escárnio de modo contrário ao respeito devido à dignidade humana". Um dos anões, aliás, uma das pessoas contratadas, já veio dizer que ninguém foi desrespeitado na festa. Em Portugal, também há um tribunal a julgar uma humorista, e por coincidência, ali em Espanha a multa também pode chegar a um milhão de euros. Obviamente que isto é assunto por ser um jogador de futebol de topo, se fosse um tipo que trabalha nas obras a convidar um amigo fanhoso para contar umas anedotas na sua festa de anos, ninguém sabia, e melhor, ninguém se importava.

Telemóveis: Os ricos proíbem o uso de telemóveis nas suas festas, em Portugal proíbe-se o uso do aparelho nas escolas! Agora a sério, depois desta pequena piada que não resisti a escrever: até que enfim! Finalmente houve a coragem de o fazer, ainda que tenha ficado aquém daquilo que eu desejava, que era proibir a sua utilização até ao 9.º ano. Esta decisão foi baseada em estudos científicos que comprovam os problemas de saúde física e mental associados ao uso excessivo dos dispositivos móveis. Será agradável ver as crianças a conversar e a brincar nos intervalos. E não me venham com o discurso bonito de que não se deve proibir e sim educar. Há coisas que só mesmo proibindo. Se assim não fosse, ainda hoje se fumava nos restaurantes e nas escolas, e ninguém se preocuparia em andar a menos de 120km/h nas autoestradas.

Sócrates: Começou finalmente um dos julgamentos mais mediáticos de sempre em Portugal, apesar das muitas tentativas do arguido em tentar impedir a sua realização. José Sócrates tem estado igual ao que sempre foi, mas agora para pior. Dispara constantemente em todas as direções, procura a comunicação social e fala mal dos Juízes, dos Procuradores, do Ministério Público e até dos próprios jornalistas, que um dia destes tiveram o bom senso de o deixar a falar sozinho. Quem o ouvir quase fica com a sensação de que apenas ele é inocente, sério, uma vítima disto tudo. Vai ser o último a perceber que já ninguém tem paciência para a sua vitimização. Na verdade, só lhe dão atenção pois continua a ser uma fonte fértil para escrever notícias e fazer capas de jornais. No meu caso, permitiu-me escrever mais doze linhas nesta crónica, e tenho a certeza que muitas mais no futuro.

Gyökeres: Tem sido a novela dos últimos dias. Ainda ontem o negócio estava quase concluído e já hoje está novamente em risco. Não me vou alongar, o Sporting deve-lhe sem dúvida os dois campeonatos que justamente venceu, ele deve ao Sporting a cobiça que grandes clubes têm hoje por ele e uma coisa bem mais importante: respeito. Na minha humilde opinião, o Presidente Frederico Varandas tem tido uma postura exemplar. Acredito que mais dia menos dia o jogador irá para o Arsenal, e acredito ainda mais que daqui a um ano, é bem mais provável o Sporting ser novamente campeão do que o Gyökeres marcar metade dos golos que fez na última temporada. Fica a aposta!


Crónica publicada na edição 506 do Notícias de Coura, 22 de junho de 2025



segunda-feira, 14 de julho de 2025

Mais apontamentos dispersos

Foi em julho de 2018 que publiquei uma crónica com o título de apontamentos dispersos. Provavelmente faltou-me assunto para as setecentas palavras dos costume e então resolvi escrever sobre várias coisas, e com cem palavras sobre cada uma delas se cumpriu a obrigação literária! Hoje farei a mesma coisa. Pensei por momentos noutra solução, resolveria provavelmente a questão em dois ou três minutos, mas vieram-me à memória as palavras de Mário Lino, Ministro das Obras Públicas, Transportes e Comunicações, que em 2007 dizia acerca da construção de um aeroporto na margem sul: “Jamais, jamais.”

Chat GPT: Nos últimos dias tive oportunidade de me insurgir contra alguns colegas meus, Professores, que me dizem recorrer frequentemente ao Chat GPT para os ajudar a escrever alguns textos. “Olha lá, é só dizeres ao Chat GPT para te construir uma síntese sobre um aluno que é preguiçoso, que não faz os trabalhos de casa, estuda pouco e se mostra pouco empenhado nas aulas, e já está. Ele escreve um texto fantástico.” Era o que mais faltava, digo eu, sejam as palavras bonitas ou menos agradáveis, aquilo que tiver de ser dito vai sê-lo por mim. Até porque o tempo que perco a dar-lhe as indicações escrevo eu o texto. Sei bem das capacidades do Chat GPT e das vantagens da sua utilização, mas dificilmente ele conseguiria ser irónico e mordaz como eu às vezes consigo ser, e nunca me daria a satisfação que tenho de chegar às seiscentas ou setecentas palavras e pensar: “Já está, consegui escrever mais uma crónica e cumprir a minha obrigação de o enviar a tempo e horas!” Portanto, recorrer ao Chat GPT para me ajudar a escrever a minha crónica: “Jamais, jamais.”

António José Seguro: Apresentou oficialmente a candidatura, com o único propósito, creio eu, de irritar o PS. E já o conseguiu. António Vitorino já anunciou que não será candidato, José Luís Carneiro tem um problema nas mãos, que está a tentar adiar até depois das eleições autárquicas, e nos últimos dias tem-se ouvido a hipótese de Augusto Santos Silva ser candidato. Para bem do próprio, e do PS, era melhor que não se metesse nessa aventura. Mais vale o PS “fechar” os olhos e apoiar Seguro, nem que isso lhe custe tanto quanto custou ao PCP apoiar Mário Soares em 1986.

Casamento em Veneza: Não fossem as notícias das últimas semanas na comunicação social e meio mundo não sabia que Jeff Bezos era o dono da Amazon, muito menos que se ia casar, e que o queria fazer em Veneza. Pelos vistos, o homem convidou umas quantas pessoas cheias de dinheiro, que resolveram ir gastar uns milhões na cidade. Eis senão quando, uns quantos indignados decidiram revoltar-se dizendo que “Veneza não está à venda!” Absurdo… Veneza está à venda há muitos e muitos anos aos milhares e milhares de turistas que por lá passam. Qual a diferença para Bezos? Obviamente o mediatismo. Este foi um casamento que levou à cidade novecentos milhões de retorno financeiro, Bezos doou três milhões a várias instituições da cidade. Irrita-me esta falsa indignação de pessoas que se calhar nada fazem pelas suas terras. (Como me irritava quanto ouvia pessoas a indignarem-se contra o Festival de Coura… quantas terras gostariam de o ter, quantas cidades gostariam de ter lá “Bezos” a casar.)

Humor em tribunal: Os noticiários têm estado nos últimos dias atentos ao desenrolar das sessões do julgamento em que o grupo musical Anjos acusa a humorista Joana Marques, de lhes ter feito perder uns milhares de euros em contratos por ter publicado um vídeo em que, aparentemente, gozava com a atuação dos mesmos quando cantaram o hino nacional. Depois de ouvir os Anjos a “tentar” cantar o hino, também eu me ri, e achei aquela entoação ridícula. (Eu não canto exatamente por isso!) Em 1987, o ator João grosso cantou uma versão rock do hino e foi processado pelo Estado. Não aprecio nada o humor de Joana Marques, mas ver os Tribunais perderem tempo com coisas destas é absurdo. Se o 25 de abril se fez para que até alguns deputados possam dizer alarvidades na casa da democracia, é deixar que os humoristas sejam julgados por quem os ouve, e lhes acha, ou não, piada. Férias: Já duas pessoas me perguntaram como estavam a correr as férias. Com a primeira ainda me ri, na segunda já fiz cara feia, a próxima arrisca-se a ouvir daquilo que nem eu vou gostar. Esta mania de pensarem que os professores têm três meses de férias no verão tem de acabar. (E agora vou-me calar, não preciso de escrever mais nada, quem me conhece sabe perfeitamente o que eu iria dizer! Além disso, já tenho mais de setecentas e cinquenta palavras!)


Crónica publicada na edição 505 do Notícias de Coura, 8 de junho de 2025




terça-feira, 1 de julho de 2025

Facebook: outra vez não.

Acordei espantado um dia destes com uma mensagem da META informando-me que a minha conta do Instagram tinha sido bloqueada por causa de uma publicação que violava as normas. Espantado, lá tentei perceber o que se tinha passado, mas sem efeito. Estranhei ainda mais pois nada tinha publicado que pudesse provocar tal situação, às vezes publicava umas críticas políticas, mas nada que justificasse tamanho castigo. Tentei perceber qual a publicação, mas em vão, restou-me tentar desbloquear a conta, colocar palavras-passe e códigos recebidos por mensagem, mas a resposta foi: a sua conta foi apagada permanentemente.

Em condições normais ficaria danado, zangado, revoltado, mas a minha atual condição médica obriga-me a respirar três ou quatro vezes antes de me zangar… não vá o coração pregar-me uma surpresa. Apenas fiquei triste, bastante triste. E não por ter perdido a conta do Instagram com quase três mil seguidores, ou a conta do Instagram do meu Clube de Fotografia da escola com quase mil seguidores, mas sim pela conta do Facebook. Publicações à parte, entristece-me perder acesso a tantas memórias da vida nos últimos vinte anos, tantos eventos, tantas histórias, tanta gente. Sempre defendi que uma das coisas boas das redes sociais são guardar memórias, e quando as vivências são muitas, este registo é uma grande ajuda. Por enquanto, ainda guardo na memória tudo aquilo, mas com o passar dos anos a nossa memória desgasta-se, e chegamos provavelmente a um ponto que algumas delas se apagam, se confundem, se baralham.

A solução até é simples, criar uma conta e recomeçar tudo de novo, mas tudo isso seria demasiado doloroso, e não vale a pena. Até porque é impossível voltar a recuperar tudo. Apesar de já ter outra conta, criei-a apenas para utilizar o Messenger e ter contacto com um conjunto de pessoas que não quero perder. Alguns de vocês provavelmente até receberam um pedido de amizade de um Luís Lopes parecido comigo. Sou eu mesmo, mas não o mesmo de outros tempos. Quanto a publicações, talvez me fique apenas pela partilha das crónicas no Notícias de Coura, ou outras pequenas partilhas de trabalhos, na certeza que tudo aquilo que lá colocar, estará de certeza publicado noutro local, num local que não esteja sujeito ao escrutínio de um algoritmo que não me atrevo aqui a adjetivar, sob pena do Tinoco me bloquear, e com razão.

Quanto ao Instagram, eu gostava mesmo daquilo, e era uma fonte incrível de recursos e inspiração para muitos dos trabalhos de fotografia, mas pessoalmente, e como dizia o outro: “É, é… mas vou abandonar, tenho uma consulta agora às cinco!” Profissionalmente não o poderei fazer, e obviamente que terei de o voltar a usar para o meu Clube de Fotografia da escola. Pessoalmente, talvez me renda aos Chineses, e a acreditar nalguns números, o TIKTOK é atualmente a rede social mais usada no mundo.

Até em termos de saúde, sabe-se que a dependência das redes sociais é prejudicial, acarreta problemas de visão, dificuldades em dormir, dores de cabeça, dores de costas ao passarmos tanto tempo dobrados, enfim, tanta coisa boa, mas que obviamente ignoraria por completo se pudesse voltar a ter acesso às minhas contas.

E assim, com este triste relato estou prestes a terminar mais uma crónica. Que estaria eu a escrever se isto não me tivesse acontecido? A desabafar sobre o imenso trabalho que tem recaído sobre alguns professores por causa da realização das provas ModA? A dar os parabéns à Seleção Portuguesa pela conquista da Liga das Nações? A indignar-me com as últimas manifestações de violência de grupos de adeptos e grupos de extrema-direita? A mostrar-me triste e chocado com os conflitos no Médio Oriente? Nunca saberei. Só espero que não me aconteça nada parecido que me sirva de inspiração para a próxima crónica.


Crónica publicada na edição 504 do Notícias de Coura, 24 de junho de 2025