terça-feira, 14 de novembro de 2023

Medina, Costa e Guterres.

Na impossibilidade de arranjar um assunto que me motive a escrever uma crónica inteira, escolho três personalidades que têm estado em destaque nas últimas semanas. Curiosamente, são todos socialistas, dois já ocuparam o cargo de 1.º Ministro, o outro desconfio que tem essa aspiração, mas também desconfio que dificilmente o conseguirá.

Fernando Medina: Foi apresentado o Orçamento de Estado para 2024. O Ministro das Finanças defendeu a aposta no reforço do rendimento dos portugueses e na poupança do excedente para proteger o futuro, adivinha-se uma recessão económica, fruto não só da subida das taxas de juro e da inflação, mas sobretudo pela instabilidade que se vive devido à guerra na Ucrânia e aos recentes desenvolvimentos no médio-oriente. Com tanta coisa para se discutir, só se ouviu falar no aumento do IUC para os carros anteriores a 2007, como desculpa por serem muito poluidores. Quem tiver um Opel Corsa de 1995 paga mais IUC do que quem comprar um Tesla de cem mil euros! Mas já nas autoestradas há coisas curiosas, há monovolumes de setenta ou oitenta mil euros a pagar menos que carrinhas comerciais do mesmo género. Coisas portuguesas. Seja como for, nunca houve um Ministro das Finanças com contas tão certas, e tão agarrado ao dinheiro como este, se tudo der certo, este será o melhor saldo orçamental em democracia.

António Costa: Defendeu bem o Orçamento de Estado (OE) para 2024. A subida do salário mínimo e a atualização das pensões, aliada a uma solução que permita limitar o aumento das rendas sem prejudicar os senhorios, foram os trunfos do 1.º Ministro. Ficou claro que não vai dar aos Professores aquilo que eles querem, diz Costa que não pode dar uma classe e não dar às outras. Vou ficar à espera daquilo que vai dar aos Médicos! Olhando para alguns números do OE há dois que achei curiosos, 113 milhões para viagens e 426 milhões para promover a igualdade de género! Perante a falta de oposição que argumenta ser este um orçamento eleitoralista, António Costa ainda tem a graça de brincar com a oposição, afirmando que já deram por perdidas as eleições de 2026 e estão apenas a concentrar-se para 2030! Estará Costa com ideias de ficar no cargo até ao final da década? Se olharmos bem para a oposição, e até para a oposição no próprio PS, não me admirava nada que o conseguisse.

António Guterres: O ataque do grupo militante palestino Hamas no passado dia 7 de outubro contra Israel foi um ato de terrorismo. É um facto. O conflito Israel-Palestina não é de agora, tem mais de um século. Não há espaço para uma grande dissertação sobre as várias guerras travadas, o certo é que há mais de 50 anos que Israel invadiu e ocupou até hoje os territórios da Cisjordânia e da Faixa de Gaza, esta última controlada há 15 anos pelo Hamas. Com o ataque de dia 7 o Hamas deu carta verde a Israel para entrar e destruir tudo, e se o Hamas é cobarde por se esconder atrás da população civil, não menos o será Israel com aquilo que se adivinha que irá acontecer. António Guterres tem sido nos últimos dias atacado por ter dito aquilo que todos sabem, mas que poucos dizem, “que os ataques do Hamas não aconteceram do nada.” E assumir isso não é de forma nenhuma desculpar ou minimizar a gravidade do ataque. Nos últimos anos as posições da comunidade internacional têm sido de defesa da criação de dois estados, a defesa da Palestina, mas em momento algum se condenou, como devia ser, Israel. E com isto se abrem e fecham noticiários, se mostra ao mundo o sofrimento de uma das populações mais pobres do mundo.



Crónica publicada na edição 466 do Notícias de Coura, 7 de novembro de 2023

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