terça-feira, 4 de julho de 2023

Racismo ou provocação?

Escolher a cidade da Régua para as comemorações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades foi uma excelente escolha, mas mais um exemplo de uma escolha “para Inglês ver”, por vezes lembram-se de fazer estas comemorações no interior do país, mas depressa se esquecem, por muitos e muitos meses. Gosto imenso da cidade da Régua, lembro-me de ver as águas do Douro inundar a marginal no Inverno e de passar lá nas tardes de calor tórrido de Verão, quando tinha um carro sem ar condicionado. Passei na Régua durante vários meses, quando era professor em Mesão Frio e morava em Montalegre, cruzava o distrito de Vila Real diariamente, 300 km por dia, 5 dias por semana, 50.000 km num ano letivo duro, mas dos mais gratificantes profissionalmente. Hoje era incapaz de tal façanha… a idade tem destas coisas!

Voltemos então ao 10 de junho e à justificação do título desta crónica.

António Costa indignou-se com alguns cartazes que estranhamente só agora viu. Os cartazes onde o 1.º Ministro aparecia com lápis espetados nos olhos e um nariz de porco já não são novos. Podemos discutir o bom gosto dos mesmos, mas cartoons são isso mesmo, exagerar e ridicularizar. António Costa, visivelmente chateado, apelidou os cartazes de racistas. Já fiz uma recolha de algumas das dezenas de significados da palavra racismo e ainda não consegui perceber onde é que o Sr. 1.º Ministro vê racismo: que representem uma atitude hostil em relação a ele ou ao governo até aceito, agora que isso seja com base na sua origem étnica ou racial é que me parece patético. O descontentamento é com as políticas e com o reconhecimento, não com a raça ou etnia dos governantes. Obviamente que nestas coisas há sempre quem ofenda, mas não são as árvores isoladas que fazem a floresta! E por falar em floresta, eis que, curiosamente, o Sr. Presidente da República fala no seu discurso da necessidade de “cortar ramos mortos que atingem a árvore toda.” Tenho esta imagem bem presente na figueira centenária que existia na quinta dos meus Pais em Trás-os-Montes. A minha mãe, teimosa, nunca nos deixou podar devidamente aquela figueira gigante, era a última árvore viva e que tinha sido plantada pelo meu avô, e ela achava que se fosse demasiado limpa podia secar. Acabou por morrer no ano passado, os ramos velhos e mortos deram cabo dela. Vejo naquela árvore António Costa, teimoso como só ele sabe ser, insiste em manter alguns ramos velhos e mortos, corre o risco sério de fazer secar a árvore.

Não acredito que tudo isto tenha sido um mero acaso, um mero descuido da comitiva ao passar pelo meio dos manifestantes. Foi uma jogada do 1.º Ministro em fazer-se passar por vítima de alguns professores mal-educados. E se calhar até resultou. Os comentadores andaram dias a opinar sobre se os cartazes eram ou não racistas. Momentos antes, e quando o povo apupava o Ministro João Galamba, uma corneta do exército ou da marinha começava a tocar! Por duas vezes as cornetas se sobrepuseram ao som dos apupos. Acham mesmo que foi uma coincidência?

Ver o Ministro João Galamba nas cerimónias oficiais foi uma óbvia provocação de António Costa ao Presidente da República. António Costa continua a mostrar-se um político difícil de bater, continua a surpreender, mas as jogadas já foram mais limpas. Está a entrar no jogo da oposição, da pior oposição que se possa imaginar, e isso é assustador. O Estado tem os cofres cheios, défice quase zero, crescimento económico muito positivo… de que está à espera António Costa para fazer bem ao povo? Ao menos que injetasse no povo tantos milhões quantos injetou na TAP. Ou será que o POVO não é estratégico para a economia, para o desenvolvimento do país e para a coesão territorial?


Crónica publicada na edição 458 do Notícias de Coura, 27 de junho de 2023.



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