quarta-feira, 16 de março de 2022

Louco, mas perigoso.

Agora que o mundo estava aos poucos a voltar a alguma normalidade, depois de dois anos de pandemia, eis que um louco decide iniciar uma guerra.

O mundo foi apanhado de surpresa quando a 24 de fevereiro as tropas russas invadiram a Ucrânia. Mas não devia. Não devia ficar surpreendido. Têm sido muitos os sinais ao longo dos tempos da insanidade do Presidente Putin e do seu ressentimento, não só pelo fim da União Soviética, mas também pelo fim do Império Russo. A integração dos países do leste europeu na NATO e o mais recente desejo da Ucrânia se tornar membro da NATO e até da própria União Europeia (cujo pedido formal foi já feito depois da guerra começar), despertou em Putin atitudes irracionais. Putin vê no alargamento da NATO uma tentativa de o ocidente cercar a Rússia. Em 2014, alegando laços históricos, a Rússia anexou a Crimeia, garantindo dessa forma uma posição estratégica no Mar Negro. Depois disso, também as províncias de Donetsk e Luhansk se tornaram “independentes” da Ucrânia, num conflito onde já morreram mais de catorze mil pessoas, com o apoio russo às forças separatistas. Em 2020, Alexei Navalni, opositor de Vladimir Putin, desmaiou durante um voo, foi para um hospital na Sibéria e depois transferido para a Alemanha. Esteve vários dias em coma e acabou por se salvar. Veio-se a provar que tinha sido envenenado, pelo mesmo veneno com que em 2018 um ex-espião russo e a filha já tinham sido envenenados no Reino Unido. Em 2021, um avião da Ryanair foi desviado da sua rota e forçado a aterrar em Minsk, na Bielorrússia. A bordo estava o jornalista Roman Protasevich, crítico ao regime do presidente Alexander Lukashenko, e que obviamente foi preso logo após a aterragem. Lukashenko é Presidente da Bielorrússia, é um “cordeiro” de Putin, e também já afirmou estar pronto para a guerra caso o seu país, ou o seu principal aliado, sejam atacados. Estes são apenas alguns dos sinais que deviam ter alertado a europa e o mundo para o que agora está a acontecer.

Entretanto, o mundo vai reagindo com manifestações de indignação e iniciativas de apoio à Ucrânia. O espaço aéreo europeu e de muitos países pelo mundo foi fechado aos aviões russos (embora Rui Pinto já tenha detetado e denunciado casos de jatos privados russos que violaram esta proibição), as instituições financeiras bloquearam as operações dos bancos russos, a UEFA excluiu das competições de futebol a seleção de futebol russa e os clubes, a Tesla ofereceu carregamentos gratuitos a quem foge da Ucrânia (haverá mesmo pessoas a fugir em carros elétricos?), o grupo de piratas informáticos Anonymous declarou guerra informática à Rússia (vai ser difícil, muitos dos melhores piratas informáticos são… russos). Mais significativa e corajosa foi a posição da União Europeia quando decidiu que vai financiar a compra de material bélico para disponibilizar à Ucrânia. Entretanto, Putin ameaça com a guerra nuclear. Numa altura em que já morreram bastantes civis, Putin nega o facto afirmando que “esta não é uma guerra aos civis”, mas logo nos primeiros dias vê-se um tanque russo a passar deliberadamente por cima de um automóvel numa estrada, por milagre o homem sobreviveu. A juntar-se à destruição, são milhares os ucranianos que fogem em busca de um país seguro, podendo-se tornar em mais um problema para a europa resolver.

Por cá, a posição do governo português e de muitos políticos com capacidade de decisão tem sido exemplar. À exceção (como já seria de esperar), do Partido Comunista Português (PCP). Foi o único partido até agora a recusar condenar Vladimir Putin pela invasão da Ucrânia. Foi ainda mais longe, apontou o dedo aos Estados Unidos da América acusando-os de quererem uma guerra na europa. Já no Parlamento Europeu, e sobre a proposta de apoio financeiro à Ucrânia, os deputados portugueses do Bloco de Esquerda abstiveram-se, os do PCP votaram contra. Estes dois partidos quase viram desaparecer a sua representatividade na Assembleia da República nas últimas eleições legislativas, com posições destas arriscam-se a ter o mesmo destino do CDS-PP. A América teve durante 4 anos um presidente louco, mas pateta. A Rússia tem há demasiado tempo um líder louco, mas perigoso. Avizinha-se uma nova guerra mundial? Esperemos que não… depois do Covid era mesmo isto que nos faltava.


Crónica publicada na edição 428 do Notícias de Coura, 9 de março de 2022.



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