terça-feira, 1 de março de 2022

Escola… ou Centro de dia!?


Estava à espera de que o Sr. 1.º Ministro desvendasse a composição do futuro executivo do governo para ter assunto para mais uma crónica. No entanto, isso só vai acontecer daqui a uns dias, pelo que tenho mesmo de arranjar outro assunto. Como já há algum tempo não escrevo sobre educação, deixa-me cá “lançar as mãos em força às teclas”, até porque é um tema sobre o qual até estou relativamente à vontade e não tenho medo de o debater com ninguém! (“Gaba-te cesto que vais à vindima!”; “Deve ter a mania que sabe de educação!”; “Ainda vai rebentar com o ego tão inflamado!”) Estas serão provavelmente algumas das expressões proferidas pelos leitores do Notícias de Coura perante a minha “arrogância”, compreendo, mas nunca gostei muito da famosa frase de Sócrates, o filósofo, “Só sei que nada sei”. Até se pode não saber muito, mas quando se sabe, sabe! Embora eu, ao contrário de Cavaco Silva, engano-me algumas vezes, e dúvidas é coisa que se me colocam todos os dias!

Estamos a meio do ano letivo e ainda há alunos sem aulas. E não são poucos. E pior, há alguns que ainda não tiveram uma aula sequer de algumas disciplinas. Segundo dados estatísticos, quase 60% dos atuais professores podem aposentar-se na próxima década. Se a este facto juntarmos o reduzido número de jovens que ingressa na universidade nas áreas da educação, o futuro avizinha-se negro. A escassez de professores não é uma coisa deste ano letivo, tem vindo a agudizar-se de ano para ano, e nada foi feito. Nada. E repito, nada (de concreto) mesmo. Faltam imensos professores de Informática (sendo uma disciplina da 2.ª divisão não merece preocupação), mas também já faltam muitos de outras disciplinas, Geografia, Matemática, Inglês, Português… as mais importantes… está na altura de alguém tomar medidas. Exigia-se bem mais a quem está há seis anos no cargo. (E se for reconduzido não terá desculpas, ou resolve, ou será o principal responsável). Embora eu acredite nas palavras do Sr. Ministro da Educação quando diz que “Está atento e a resolver a situação”, precisam-se ações, não discursos. Já este ano letivo o Ministério constitui umas equipas, a que chamou “task-forces”, cuja função é visitar as escolas com falta de professores e ajudar a encontrar soluções. Na verdade, visitam, mas pelo que ouvi esclarecem logo que não trazem soluções, limitam-se a registar a situação e a afirmar num tom de políticos em campanha eleitoral que “confiam nas decisões dos Senhores Diretores e acreditam que eles tudo farão para resolver o problema”. Grande novidade! Obviamente que farão! Até porque se há pessoas com capacidade para isso são mesmo os Professores que estão nas escolas. Juntar uns quantos técnicos numa task-force não faz milagres, no limite justifica-lhes o vencimento e o cargo que ocupam. (O fenómeno da task-force liderada pelo Almirante Gouveia e Melo é irrepetível. A ideia de colocar militares a “mandar” em muitas áreas do Estado era solução para muita coisa… disciplina, ordem, rigor… vou deixar mais considerações sobre isto para quando me faltar assunto para uma crónica).

Estão de volta às escolas os professores “biscateiros”, muitos deles sem formação absolutamente nenhuma em educação. No meu tempo (leia-se década de 80), tive imensos professores sem formação absolutamente nenhuma em educação, quando andava no 3. ciclo alguns dos meus Professores andavam no secundário, a estudar à noite. O meu Professor de Educação Física do 2.º ciclo era um rapaz que jogava futebol na equipa sénior da aldeia! Tive uma professora de Geografia e Matemática (sim, acumulava as duas disciplinas!) no 8.º ano, que foi depois minha colega na Universidade! (E lembro-me dela por bons motivos). E já que falo em acumulações, no 7.º ano o meu Professor de Português, era-o também de Geografia e Educação Física! Se com alguns pouco aprendi, a verdade é que com outros aprendi da forma que ainda hoje acho que os alunos deviam aprender: os professores estavam na escola para ensinar, e ensinavam, havia disciplina, e castigos sérios para os infratores. (Embora alguns castigos fossem uma aberração, muitas vezes bastava os Pais serem informados, era uma altura onde a educação era dada em casa).

A génese desta grave situação que se vive na educação deve-se em boa medida às políticas, e à postura “arrogante” da ex-Ministra da Educação Maria de Lurdes Rodrigues. Dividiu os professores em titulares e não titulares, colocou-os a avaliarem-se entre si e atirou o prestígio da classe para a rua quando afirmou que “Entre perder a opinião pública ou os professores, preferia perder os professores.” Ainda esta semana esta senhora teve a ousadia (escrevo ousadia, mas tenho na cabeça um termo bem mais popular), de escrever no expresso que “É inaceitável um professor chegar à idade da reforma na categoria de auxiliar.” Coitados dos Professores universitários.

Termino com a explicação para o título que dei à crónica. Foi proferida por um colega meu, Professor de Biologia na casa dos sessenta anos, que um dia (ainda antes da pandemia) entrou na sala de Professores, olhou para cerca de 20 “almas” sentadas nos sofás e nas cadeiras e exclamou: “Isto nem parece uma sala de Professores, isto parece o Centro de dia”! Imaginem a minha satisfação, com os meus 45 anos senti-me um jovem!

Crónica publicada na edição 427 do Notícias de Coura, 23 de fevereiro de 2022.



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