segunda-feira, 29 de julho de 2024

O mundo ao contrário

Ainda ontem enviei a anterior crónica e eis que, pela primeira vez ao longo dos quase doze anos de colaboração com o Notícias de Coura, começo a escrever um texto ainda antes da publicação da anterior! Estarei bem!? Comecei a escrever e a alinhar umas ideias, estava decidido a escrever umas últimas palavras sobre a prestação da seleção portuguesa no Europeu de futebol, umas coisas sobre a educação em Portugal, a entrevista da senhora Procuradora-Geral da República e algumas coisas sobre as eleições nos Estados Unidos. Com o anormal funcionamento do mundo acabei por desistir de alguns tópicos e acrescentar outros bem mais interessantes.

França: a extrema-direita ganhou a primeira volta das eleições legislativas em França. Houve tantos partidos que temeram pelo perigo que se aproximava que decidiram unir esforços e juntar-se numa estranha geringonça cujo único propósito foi derrotar a extrema-direita. Conseguiram. O pior vai ser agora entenderem-se para governar, mas isso é outro assunto!

Reino Unido: o partido trabalhista obteve uma vitória estrondosa e voltou ao poder catorze anos depois. Não vai ter tarefa fácil para lidar com o nível de pobreza de muita população dependente de apoios sociais. Tem no seu programa o combate à pobreza infantil, querer acabar com a dependência das cestas alimentares e construir habitação social, mas tudo isto assente no crescimento económico. Com o atual estado do mundo, não vai ser fácil.

Estados Unidos: É a terra das oportunidades, e neste caso a terra que me dá imensos motivos para escrever. As eleições presidenciais são só em novembro, mas a campanha e a luta política estão ao rubro. O atual Presidente Joe Biden já não consegue disfarçar as fragilidades de um homem de oitenta e um anos. No primeiro debate com Donald Trump não conseguiu mascarar o cansaço e a dificuldade em argumentar, foi visível o esforço por se manter acordado. Mas o pior estava para vir. Na cimeira da NATO referiu-se a Zelensky como presidente Putin, e pior ainda, enganou-se no nome da sua própria vice-presidente, Kamala Harris, chamando-lhe Donald Trump. Pior do que ter um candidato a presidente com estas fragilidades é os Estados Unidos virem a ter um Presidente que manifestamente não demonstra ter a capacidade e a lucidez que o cargo exige. Pior ainda, é a alternativa que os americanos estão prestes a eleger a acreditar nas sondagens que vão sendo conhecidas. Donald Trump já nem precisava de fazer grande coisa, bastava ir aparecendo, fazer uns comícios e esperar que o seu adversário continue a dar tiros nos pés. O vento já lhe estava favorável, e mais favorável ficou quando desviou a bala que lhe furou uma orelha. Enquanto discursava num comício na Pensilvânia, Donald Trump foi alvo de uma tentativa de assassinato, acabando apenas com uma orelha perfurada. Nunca saberemos se foi a má pontaria do atirador, se foi o efeito do vento ou o destino, o que é certo é que escapou e o momento parece ter sido decisivo no resultado de novembro. Fica a imagem de um homem, rodeado de seguranças que o tentam proteger, mas que com a cabeça em sangue consegue erguer o punho na direção do povo. Só um grande escândalo impedirá Donald Trump de voltar a ser Presidente dos Estados Unidos da América. Avizinham-se tempos difíceis e talvez perigosos, não só para os Estados Unidos mas principalmente para o mundo.

Espanha: Está em festa com a conquista do europeu de futebol. Mais do que merecido. Justíssimo. Por fim, a propósito do título, espero que não percam o mais bonito Mundo ao Contrário que verdadeiramente vale a pena, o de Paredes de Coura!

Crónica publicada na edição 483 do Notícias de Coura, 23 de julho de 2024



segunda-feira, 15 de julho de 2024

Ronaldo será sempre um campeão!

Confesso que escrevi este título uns dias antes de começar efetivamente esta frase que agora estão a ler. São vinte e duas horas do dia um de julho, aborreci-me com o jogo de futebol entre Portugal e a Eslovénia, enquanto decorre o prolongamento vou adiantando a minha crónica para o Notícias de Coura. A nossa seleção está a fazer um jogo triste, confuso, sem chama. Não há livre que não seja marcado por Ronaldo e até agora sem resultados, nem mesmo de penálti funcionou. Ronaldo chora no intervalo do prolongamento, compreende-se a tristeza e o desespero, mas nada disso apagará a mais bela imagem deste europeu, aquela que me serviu de inspiração para a presente crónica.

Portugal – Turquia, os jogadores alinhados ouvem o hino, à frente deles muitas crianças vivem um momento único. Na frente de Ronaldo vê-se uma menina, deslumbrada com ele, olha-o e chega a tocá-lo, vibrando de felicidade, como que a pensar: “- É mesmo verdadeiro!” Ronaldo nunca fica indiferente a esta coisas e retribui com um abraço. Ainda durante o jogo o campo é invadido por outra criança, corre pelo relvado em direção ao seu ídolo, ainda antes de o alcançar já ele o esperava de braços abertos, Ronaldo, quem mais poderia ser? São momentos como estes que certamente ficarão na memória destas crianças para a eternidade, mais do que quem será campeão europeu, estas crianças nunca esquecerão que em 2024 abraçaram o melhor jogador do mundo.

Entretanto, espreito a televisão e vejo que vamos a penáltis. Costuma dizer-se que os penáltis são uma lotaria, e que acaba sempre por vencer quem tem mais sorte. Não concordo, desculpa-se muitas vezes a falta de talento ou profissionalismo com a sorte ou o azar. Os penáltis também se treinam, e treinam aqueles que os marcam, como treinam os guarda-redes que os defendem. Terá sido Ronaldo que falhou o penálti ou o guarda-redes da Eslovénia que o defendeu?

E agora faço uma pausa. Vou esperar pelo fim do jogo para concluir a minha crónica. Até daqui a uns minutos…

Voltei! Feliz obviamente. Portugal vence e passa aos quartos-de-final. Mesmo triste e um pouco desalentado, Ronaldo é o primeiro a marcar e não falha, mostrou mais uma vez a coragem e determinação que o carateriza, quando foi mais necessário, não virou as costas à luta. Depois de marcar pediu desculpa aos adeptos, mas não era necessário, Ronaldo já nos deu tanto que não tem de pedir desculpa por nada. E enquanto os nossos jogadores marcam, na baliza Diogo Costa defende todos os penáltis do adversário, torna-se o homem do jogo e é decisivo para a continuidade em prova da nossa seleção. (Talvez tenha dado um importante passo para um grande clube europeu, e possa render alguns milhões ao FC Porto que, a acreditar nos jornais, todos os dias tem devedores à porta).

Agora voltaremos a defrontar a França, que tão boa recordação me traz de 2016, mas cuja tristeza e desalento de 1984 ainda não esqueci. Espero que quando este texto chegue às mãos dos leitores Portugal esteja já nas meias-finais e que sejam de alegria as próximas lágrimas que virmos de Ronaldo. (Há qualquer coisa que me diz que Ronaldo nos vai trazer uma grande alegria contra a França, talvez seja um pressentimento ou talvez seja um mero desejo, Ronaldo merece mais essa alegria.) Desta forma se cumpre a minha obrigação. Quando daqui a duas semanas voltar a escrever, o Campeonato da Europa já terminou. Pelo sim pelo não preparo já o título: Portugal campeão! Dava imenso jeito que Roberto Martinez não inventasse mais e conseguisse fazer dos melhores do mundo a melhor equipa! Caso contrário vai-me obrigar a procurar um novo assunto.


Crónica publicada na edição 482 do Notícias de Coura, 9 de julho de 2024





terça-feira, 2 de julho de 2024

Você enganou-se!

Ainda não é desta que me aventuro a falar das “minhas” pessoas de Coura. Estava quase decidido a fazê-lo. Em primeiro lugar porque estava sem ideias, e em segundo porque o cansaço nestes dias tem sido tal que quando chego a casa já só tenho forças para comer, tomar banho e dormir. (Podia queixar-me de passar nalguns dias 12 horas na escola, mas não vou fazê-lo, sabe-se bem que os professores trabalham pouco! Mesmo aqueles que aceitam muitas extraordinárias por semana para se encherem de dinheiro!) Sobre as “minhas” pessoas de Coura estou com grande dificuldade em escolher o segundo de quem vou falar. O primeiro é o Zé João da Pastelaria Courense. Tenho quase a certeza de que foi lá que tomei o 1.º café em Coura, em julho de 2006, tenho a certeza de que foi lá que tomei o último quando em julho de 2019 parti rumo ao sul. Entre estas datas, algumas centenas de cafés, a mesma simpatia e boa disposição de sempre, e aquela expressão que me habituei a ouvir e ainda hoje uso por achar tão bonita “Bom dia pela manhã!” Enquanto não me decido a escolher quem se seguirá, resta-me cumprir o compromisso e redigir mais uns parágrafos. E faz-se luz!

Afinal, também me engano. Lá se vai a minha esperança de ser melhor que Cavaco Silva. Deixo aqui esta confissão, mesmo sabendo que muitos dos leitores do Notícias de Coura já se esqueceram daquilo que escrevi na última crónica. Afirmei ter a certeza de que as provas de aferição correriam mal, pior ainda que no ano anterior. Enganei-me. Apesar de ainda faltar realizar a última prova (realiza-se amanhã, pois estou a escrever esta crónica no dia dezassete), o balanço tem sido positivo, apesar da rede de internet do Ministério da Educação estar cada vez pior, e de cada vez menos routers de acesso à mesma funcionarem (diz-se que por falta de pagamento do Estado), as provas têm corrido bem. Já relativamente à utilidade das mesmas, isso é outra conversa, terei certamente oportunidade de voltar a este assunto. Mesmo que esteja novamente enganado, prometo que voltarei. Nem que seja para criticar o governo caso não tenha a coragem política de acabar com elas.

O título desta crónica surgiu-me, não da lembrança deste meu engano, mas pelas memórias que o teatro me vai trazendo dos tempos felizes que vivi em Paredes de Coura. Aproxima-se o Fitavale, esse fenómeno único em que os grupos de teatro do Vale do Minho vão estrear as suas criações aos municípios vizinhos. Este ano a coisa está a ser diferente. As Comédias do Minho têm essa habilidade de nos surpreender constantemente. Pelo que tenho lido e visto, andam os grupos de teatro a estrear peças nas suas próprias terras. Então e meu TAC? Pois bem, fiquem sabendo que dia 29 deste mês ocorrerá uma autêntica maratona de teatro no Centro Cultural de Paredes de Coura! Vão lá estar os grupos de teatro de amadores todos! É a estreia do TAC, naturalmente não a posso perder! Enquanto tiver saúde, tudo farei para estar sempre presente na estreia de um grupo de teatro que tantas horas de alegria e verdadeira felicidade me proporcionou!

Nesta altura, apenas algumas pessoas poderão esboçar um sorriso ao ler este título! O TAC estava em cena, a representar a talvez mais cómica obra de Molière, O Avarento. Surpreendido pela minha deixa, que não tinha sido dita tal qual estava escrita no guião, aquele que comigo contracenava diz-me baixinho: “Você enganou-se!” Apanhado de surpresa por tamanha ousadia, lá lhe disse entre dentes a deixa dele, na qual pegou e a peça seguiu! Esta é das muitas coisas do teatro que jamais esquecerei! Esta e tantas outras, muitas delas tendo como ponto comum o ator em causa, e pelo qual sinto um grande carinho!

Até já. Vemo-nos no dia 29, no Centro Cultural de Paredes de Coura!



Crónica publicada na edição 481 do Notícias de Coura, 25 de junho de 2024