Ainda ontem enviei a anterior crónica e eis que, pela primeira vez ao longo dos quase doze anos de colaboração com o Notícias de Coura, começo a escrever um texto ainda antes da publicação da anterior! Estarei bem!? Comecei a escrever e a alinhar umas ideias, estava decidido a escrever umas últimas palavras sobre a prestação da seleção portuguesa no Europeu de futebol, umas coisas sobre a educação em Portugal, a entrevista da senhora Procuradora-Geral da República e algumas coisas sobre as eleições nos Estados Unidos. Com o anormal funcionamento do mundo acabei por desistir de alguns tópicos e acrescentar outros bem mais interessantes.
França: a extrema-direita ganhou a primeira volta das eleições legislativas em França. Houve tantos partidos que temeram pelo perigo que se aproximava que decidiram unir esforços e juntar-se numa estranha geringonça cujo único propósito foi derrotar a extrema-direita. Conseguiram. O pior vai ser agora entenderem-se para governar, mas isso é outro assunto!
Reino Unido: o partido trabalhista obteve uma vitória estrondosa e voltou ao poder catorze anos depois. Não vai ter tarefa fácil para lidar com o nível de pobreza de muita população dependente de apoios sociais. Tem no seu programa o combate à pobreza infantil, querer acabar com a dependência das cestas alimentares e construir habitação social, mas tudo isto assente no crescimento económico. Com o atual estado do mundo, não vai ser fácil.
Estados Unidos: É a terra das oportunidades, e neste caso a terra que me dá imensos motivos para escrever. As eleições presidenciais são só em novembro, mas a campanha e a luta política estão ao rubro. O atual Presidente Joe Biden já não consegue disfarçar as fragilidades de um homem de oitenta e um anos. No primeiro debate com Donald Trump não conseguiu mascarar o cansaço e a dificuldade em argumentar, foi visível o esforço por se manter acordado. Mas o pior estava para vir. Na cimeira da NATO referiu-se a Zelensky como presidente Putin, e pior ainda, enganou-se no nome da sua própria vice-presidente, Kamala Harris, chamando-lhe Donald Trump. Pior do que ter um candidato a presidente com estas fragilidades é os Estados Unidos virem a ter um Presidente que manifestamente não demonstra ter a capacidade e a lucidez que o cargo exige. Pior ainda, é a alternativa que os americanos estão prestes a eleger a acreditar nas sondagens que vão sendo conhecidas. Donald Trump já nem precisava de fazer grande coisa, bastava ir aparecendo, fazer uns comícios e esperar que o seu adversário continue a dar tiros nos pés. O vento já lhe estava favorável, e mais favorável ficou quando desviou a bala que lhe furou uma orelha. Enquanto discursava num comício na Pensilvânia, Donald Trump foi alvo de uma tentativa de assassinato, acabando apenas com uma orelha perfurada. Nunca saberemos se foi a má pontaria do atirador, se foi o efeito do vento ou o destino, o que é certo é que escapou e o momento parece ter sido decisivo no resultado de novembro. Fica a imagem de um homem, rodeado de seguranças que o tentam proteger, mas que com a cabeça em sangue consegue erguer o punho na direção do povo. Só um grande escândalo impedirá Donald Trump de voltar a ser Presidente dos Estados Unidos da América. Avizinham-se tempos difíceis e talvez perigosos, não só para os Estados Unidos mas principalmente para o mundo.
Espanha: Está em festa com a conquista do europeu de futebol. Mais do que merecido. Justíssimo. Por fim, a propósito do título, espero que não percam o mais bonito Mundo ao Contrário que verdadeiramente vale a pena, o de Paredes de Coura!
Crónica publicada na edição 483 do Notícias de Coura, 23 de julho de 2024