terça-feira, 12 de dezembro de 2023

Política, 25 de novembro e Argentina

Numa altura em que estive a atualizar o blog onde partilho estas crónicas, e faço-o sempre apenas uma semana depois das mesmas serem publicadas em papel, verifiquei que me tenho centrado essencialmente em temas políticos. Ora, a culpa não é minha! As últimas semanas têm sido ricas em assuntos que chegavam para dois ou três anos de textos. Tantas vezes ando aflito à procura de assunto, e agora os assuntos são tantos que o que custa é escolher. Assim sendo, deixo pequenos apontamentos sobre estas e outras coisas na ordem do dia:

Confusões políticas: são tantas e tão diversas que nem vou fazer grandes considerações, limito-me a enumerá-las: a crise política depois da demissão de António Costa (que me aprece estar arrependido); as eleições no PS e a difícil missão que Pedro Nuno Santos tem nas mãos (como vai ele convencer os eleitores que é diferente, quanto esteve no governo até há tão pouco tempo e foi igual aos outros!?); as promessas eleitoralistas do PSD que tanto parecem prometer (não voltarão a fazer como Pedro Passos Coelho e ir além daquilo que já era doloroso!?); o estranho acalmar de André Ventura que parece estar tão pacífico e adormecido (ninguém o quer para coligações, mas ele sabe que os seus votos serão decisivos para virar as coisas à direita, ou não!); os estranhos valores das sondagens que continuam a dar o PS como vencedor, PS e PSD a perderem votos, e o Chega sempre a subir; os recuos em determinadas propostas do Orçamento de Estado para 2024 que me “cheiram” já a campanha eleitoral. Enfim, com campanhas eleitorais, eleições e formação de um novo governo, não me faltará assunto até meados de 2024! (Assim tenham os leitores do Notícias de Coura paciência para ler as minhas considerações).

25 de novembro: A Câmara Municipal de Lisboa assinalou este ano o 25 de novembro com um diversificado conjunto de iniciativas na cidade. Segundo a autarquia, “Há datas que temos a obrigação ética e social de não esquecer, a bem da democracia, da liberdade e das novas gerações.” Julgo que esteve muito bem, e não me parece de modo nenhum que isto menorize ou tire significado à revolução de abril. O 25 de abril libertou-nos da ditadura, mas só o 25 de novembro consolidou definitivamente a nossa democracia, por isso se ouve às vezes dizer que “não fosse o 25 de novembro, e Portugal seria a Cuba da Europa!” Escreveu Mário Soares em 2010 num artigo de opinião na revista Visão, “O 25 de Novembro de 1975 é uma data tão importante, para a afirmação da democracia pluralista, pluripartidária e civilista que hoje temos, como a Revolução dos Cravos." E que não venham algumas “virgens ofendidas” apregoar que esta é uma data fraturante, o 25 de dezembro também o é para os portugueses muçulmanos, ateus ou agnósticos, e ninguém se ofende.

Argentina: O país vive uma grave crise social, uma taxa de inflação superior a 100%, elevados níveis de pobreza, sobrevalorização do dólar e uma dívida pública elevada. Foi neste quadro que a Argentina elegeu como Presidente Javier Milei, um político autodenominado anarcocapitalista e que propõe o encerramento do Banco Central Argentino, a legalização da venda de órgãos e o fim da educação obrigatória. Ao mesmo tempo que nega o aquecimento global, pretende criminalizar o aborto, mas defende o casamento gay. Depois da sua vitória, Donald Trump diz-se orgulhoso e vai viajar até Buenos Aires para reunir com ele, um encontro facilitado pelo filho de Bolsonaro. Os malfeitores conhecem-se todos uns aos outros, com esta gente toda junta é caso para dizer, “só se estraga uma casa!” Não se avizinham tempos fáceis para a Argentina.


Crónica publicada na edição 468 do Notícias de Coura, 5 de dezembro de 2023



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