terça-feira, 27 de dezembro de 2022

Obrigado Ronaldo!

Escrevo-vos este texto no dia seguinte ao da eliminação de Portugal do Mundial de 2022 no Catar. Se a nossa seleção tivesse passado às meias-finais provavelmente andaria ainda à procura de um assunto para esta crónica, e lá teria de escrever sobre o caos que se vive nas urgências ou sobre as inundações na cidade de Lisboa.

Obviamente que estou triste e desapontado pela eliminação da nossa equipa, mas também revoltado por ter visto um jogo de fraca qualidade. Comparado com o jogo com a Suíça, Portugal não jogou “bola”. E pior… na minha opinião Marrocos não jogou nada. Fez à nossa seleção o que tinha feito à seleção de Espanha, limitou-se a defender e a estragar jogo, e quando a nossa defesa falhou, eles marcaram. Um absurdo ver uma equipa assim nas meias-finais de um campeonato do mundo. (Mas deixa-me calar… em 2016 fomos campeões europeus sem encantar ninguém.)

Ainda assim, muito longe chegou uma seleção que se viu cercada por uma comunicação social “sem vergonha”, principalmente a portuguesa. Em cada 100 perguntas feitas ao treinador ou jogadores, 99 eram sobre Ronaldo e tudo o que o envolve. Ronaldo tem vivido nos últimos meses alguns dos piores momentos da sua vida pessoal e da sua carreira futebolística. Provavelmente não tem reagido da melhor forma e até pode ter feito e dito alguns disparates. Seria nesta altura que precisava dos melhores amigos ao lado, ou até bons conselheiros, e não os tem tido.

Portugal, este pequeno país que descobriu metade do mundo, teve em Eusébio e Amália Rodrigues as suas referências. Os tempos não são comparáveis, mas aquilo que Ronaldo tem sido para Portugal é inatingível. Não há canto neste mundo, onde quando se fala de futebol não se fale em Ronaldo. Até nos países mais pobres e onde as crianças jogam futebol com uma bola de trapos, ouve-se de certeza o nome de Ronaldo.

Os números de Ronaldo são de outro planeta, os títulos, os prémios, os recordes, nada tem comparação. Não tem, e não terá, dificilmente haverá outro jogador assim. (É uma chatice não poder estar cá daqui a 200 ou 300 anos para provar a minha convicção!) Como português e adepto da nossa seleção, há três momentos que nunca vou esquecer:

19 de novembro de 2013: Portugal jogava na Suécia o apuramento para o Mundial de 2014 a disputar no Brasil. Portugal ganhava 1-0 com um golo de Ronaldo. Do outro lado, o monstro Ibrahimovic dava a volta ao resultado, marcando 2 golos em apenas 5 minutos. O que fez foi acordar outro monstro, em 3 minutos o nosso Ronaldo marcava mais 2 golos e carimbava o passaporte português para mais um mundial.

10 de julho de 2016: Portugal estava pela primeira vez numa final de uma grande competição. Jogava-se a final do europeu em Paris, contra a França. Aos 25 minutos Ronaldo sai de maca, lesionado e em lágrimas… a equipa perde o seu capitão, o seu astro. Portugal aguenta, e quase perde a respiração quando aos 92 minutos a França atira ao poste. Prolongamento, Portugal está melhor, aos 108 minutos atira ao poste e um minuto depois Éder marca o golo que nos faria campeões da Europa. Nos últimos minutos, no banco de suplentes, o lesionado Ronaldo não para de incentivar a equipa, de gritar, de empurrar toda a gente… e no fim, lágrimas de alegria.

10 de dezembro de 2022: Após a eliminação do Mundial do Catar, Ronaldo abandona o Estádio Al Thumana, sozinho, e em lágrimas. Dirão alguns que são lágrimas de revolta por não ter sido titular, dirão outros que são de desespero por ser o último mundial em que joga. Por tudo aquilo que Ronaldo foi, e é, acredito que são de pura tristeza ao ver o seu país eliminado. Existirão decerto milhões de portugueses que queriam ser campeões, mas mais do que ele, ninguém.

As lágrimas de Ronaldo, são lágrimas de Portugal.



Crónica publicada na edição 446 do Notícias de Coura, 20 de dezembro de 2022.



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