terça-feira, 15 de novembro de 2022

Alarmes nas latas de atum

No dia em que o Brasil escolhe o seu próximo presidente, dirão alguns que escolhe o “pior de dois males”, ainda sou tentado a esperar pelo dia de amanhã para escrever a minha crónica, mas não o vou fazer. Já na última edição cumpri a minha obrigação com dois dias de antecedência (e eram dois artigos!). Cumprir as obrigações antes do prazo dá um alívio gratificante, chego à segunda-feira com mais tempo livre e sem aquela sensação de “tem de ser hoje, ou amanhã de manhã!”. Vamos ver por quantas semanas o conseguirei fazer.

Já tinha o assunto destinado para esta crónica desde que li e ouvi as notícias sobre o tema que dá título à mesma. É assustador saber que os supermercados estão a colocar alarmes nas garrafas de azeite, nas latas de atum, no bacalhau, no salmão e até nas salsichas. Mais do que assustador, é triste ouvir que são os mais idosos a roubar para dar de comer aos filhos, e algumas mães que se veem nessa necessidade para alimentar os filhos. Roubar para comer é um sintoma preocupante da grave crise social que se aproxima. Estranhei tanto esta medida que tive a preocupação de verificar quando fui às compras, e é mesmo verdade, já não são só as garradas de whiskey e os vinhos mais caros que têm alarmes. Qualquer dia, ou colocam alarmes em tudo, ou têm de colocar um segurança em cada corredor para vigiar os compradores. A inflação é galopante, tive a curiosidade de comparar os preços de alguns produtos que comprei há um ano com os atuais, bens essenciais como água, leite, massa, atum, pão e manteiga, aumentaram todos mais de 40%, alguns deles chegaram quase aos 100% de aumento, como por exemplo a massa que passou de 0,49€ para 0,89€.

As notícias que diariamente podemos ler são preocupantes, a taxa de inflação aproximou-se dos 17% no último mês; no segundo trimestre deste ano o número de insolvências particulares registou um acréscimo de 15%; as portagens podem subir mais de 10% em janeiro; o aumento do salário mínimo pode ser incomportável para muito setores da economia; a Rússia bloqueou a exportação de cereais; há cada vez mais pedidos de ajuda, não só das famílias mas até de muitas instituições; o BCE (Banco Central Europeu) voltou a aumentar as taxas de juro; os preços dos combustíveis continuam altos, baixam duas ou três semanas, mas sobem logo a seguir para valores iguais aos que se registavam antes das diminuições… enfim, é desgraça atrás de desgraça.

Enquanto isso, debate-se no Parlamento o Orçamento de Estado para 2023. Debate-se apenas por obrigação, seja ele qual for, tem a aprovação garantida pela maioria absoluta que os Portugueses deram ao Partido Socialista. Curioso o facto de ter sido aprovado na generalidade exatamente um ano depois do chumbo anterior e que provocou eleições antecipadas. Os deputados que restam do PCP e do BE ainda devem estar hoje a pensar: - “O que fomos nós arranjar.”.

Em suma, o governo apresentou algumas medidas para apoiar as famílias com créditos à habitação, uma taxa sobre os lucros extraordinários de algumas empresas e a atualização de pensões e salários. Estes aumentos são um autêntico truque, uma vez que vão ser completamente absorvidos pela inflação. E enquanto os trabalhadores vão fazendo contas à vida, o Estado vê as receitas fiscais aumentarem 21,6% face ao mesmo período do ano passado. Costuma-se dizer que “O Estado somos todos nós”, mas perante estes valores começa a ser difícil acreditar.

Se me fossem permitidas duas sugestões, eu aconselhava taxar os bens essenciais com a taxa de IVA de 0%, até a inflação estar controlada e as taxas de juro voltarem a valores a rondar o 1%. Aconselhava também a não meter mais 1 cêntimo na TAP, e a distribuir esses milhões pelos portugueses. Mas a TAP sempre foi um poço sem fundo, um problema que ninguém quer resolver. Talvez à semelhança do novo aeroporto… afinal, isto anda tudo ligado.


Crónica publicada na edição 443 do Notícias de Coura, 8 de novembro de 2022.



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