No dia em que o Brasil escolhe o seu próximo presidente, dirão alguns que escolhe o “pior de dois males”, ainda sou tentado a esperar pelo dia de amanhã para escrever a minha crónica, mas não o vou fazer. Já na última edição cumpri a minha obrigação com dois dias de antecedência (e eram dois artigos!). Cumprir as obrigações antes do prazo dá um alívio gratificante, chego à segunda-feira com mais tempo livre e sem aquela sensação de “tem de ser hoje, ou amanhã de manhã!”. Vamos ver por quantas semanas o conseguirei fazer.
Já tinha o assunto destinado para
esta crónica desde que li e ouvi as notícias sobre o tema que dá título à mesma.
É assustador saber que os supermercados estão a colocar alarmes nas garrafas de
azeite, nas latas de atum, no bacalhau, no salmão e até nas salsichas. Mais do
que assustador, é triste ouvir que são os mais idosos a roubar para dar de
comer aos filhos, e algumas mães que se veem nessa necessidade para alimentar
os filhos. Roubar para comer é um sintoma preocupante da grave crise social que
se aproxima. Estranhei tanto esta medida que tive a preocupação de verificar
quando fui às compras, e é mesmo verdade, já não são só as garradas de whiskey
e os vinhos mais caros que têm alarmes. Qualquer dia, ou colocam alarmes em
tudo, ou têm de colocar um segurança em cada corredor para vigiar os
compradores. A inflação é galopante, tive a curiosidade de comparar os preços
de alguns produtos que comprei há um ano com os atuais, bens essenciais como
água, leite, massa, atum, pão e manteiga, aumentaram todos mais de 40%, alguns
deles chegaram quase aos 100% de aumento, como por exemplo a massa que passou
de 0,49€ para 0,89€.
As notícias que diariamente podemos
ler são preocupantes, a taxa de inflação aproximou-se dos 17% no último mês; no
segundo trimestre deste ano o número de insolvências particulares registou um
acréscimo de 15%; as portagens podem subir mais de 10% em janeiro; o aumento do
salário mínimo pode ser incomportável para muito setores da economia; a Rússia
bloqueou a exportação de cereais; há cada vez mais pedidos de ajuda, não só das
famílias mas até de muitas instituições; o BCE (Banco Central Europeu) voltou a
aumentar as taxas de juro; os preços dos combustíveis continuam altos, baixam
duas ou três semanas, mas sobem logo a seguir para valores iguais aos que se
registavam antes das diminuições… enfim, é desgraça atrás de desgraça.
Enquanto isso, debate-se no
Parlamento o Orçamento de Estado para 2023. Debate-se apenas por obrigação,
seja ele qual for, tem a aprovação garantida pela maioria absoluta que os
Portugueses deram ao Partido Socialista. Curioso o facto de ter sido aprovado
na generalidade exatamente um ano depois do chumbo anterior e que provocou
eleições antecipadas. Os deputados que restam do PCP e do BE ainda devem estar
hoje a pensar: - “O que fomos nós arranjar.”.
Em suma, o governo apresentou algumas
medidas para apoiar as famílias com créditos à habitação, uma taxa sobre os
lucros extraordinários de algumas empresas e a atualização de pensões e
salários. Estes aumentos são um autêntico truque, uma vez que vão ser
completamente absorvidos pela inflação. E enquanto os trabalhadores vão fazendo
contas à vida, o Estado vê as receitas fiscais aumentarem 21,6% face ao mesmo
período do ano passado. Costuma-se dizer que “O Estado somos todos nós”, mas
perante estes valores começa a ser difícil acreditar.
Se me fossem permitidas duas
sugestões, eu aconselhava taxar os bens essenciais com a taxa de IVA de 0%, até
a inflação estar controlada e as taxas de juro voltarem a valores a rondar o
1%. Aconselhava também a não meter mais 1 cêntimo na TAP, e a distribuir esses
milhões pelos portugueses. Mas a TAP sempre foi um poço sem fundo, um problema
que ninguém quer resolver. Talvez à semelhança do novo aeroporto… afinal, isto
anda tudo ligado.
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