terça-feira, 5 de maio de 2020

Coisas dispersas

Pior do que não saber sobre o que escrever, é dar voltas e voltas e os únicos assuntos que parecem interessar estão relacionados com o difícil momento que atravessamos. Estive quase a intitular esta crónica de “Obviamente que não vai ficar tudo bem”, mas não vale a pena ser mais uma voz pessimista num momento onde se precisa de esperança. Aliás, nem há essa necessidade, para muita gente já não está tudo bem, e de uma forma geral, todos temos consciência que as coisas nunca mais serão as mesmas. Assim sendo, e despachado que está o primeiro parágrafo, vamos lá tecer algumas considerações sobre coisas dispersas. Um Português que se preze tem sempre opinião sobre tudo e mais alguma coisa! 


Reclusos em liberdade. Acho mal. E acho mal por várias razões. Para começar, não havendo casos de Covid-19 nos estabelecimentos prisionais, creio que estariam mais seguros lá dentro, bastava que se tomassem todas as medidas necessárias para proteger os locais, como se devia ter feito com os lares de idosos e não se fez. Depois, libertaram-se os presos à pressa, durante o fim-de-semana de proibição de viajar para fora dos concelhos. Eles até tinham as autorizações para circular, mas sem transportes públicos e sem possibilidade dos familiares os irem buscar, ficaram “presos” em liberdade. E para terminar este assunto, não me venham com a história que só foram libertados os que estavam doentes ou os bem comportados, que dizer daquele que foi apanhado poucas horas depois em Lisboa numa zona de tráfico de droga? 

Máscaras obrigatórias. Acho bem. Depois de no mês de março não considerar necessário o uso de máscara, a Direção Geral de Saúde vem agora recomendar o uso da mesma em espaços públicos. Não acho que seja suficiente a recomendação, acho que deveria ser obrigatório e bem controlado pelas forças da autoridade o uso das mesmas em todos os espaços onde se juntem duas ou mais pessoas. Numa coisa a Senhora Diretora Geral de Saúde, “O uso da máscara só por si não é suficiente”, mas que ajuda, ajuda. 

Telescola. Independentemente de como esteja a correr, é de louvar o esforço do Ministério e de todos os profissionais envolvidos. Colocar aquilo a funcionar em poucos dias não deve ter sido fácil. Estaria excelente se fosse obrigatória para todos os alunos, mas apenas como recurso esporádico dos professores e a servir para “ocupar” aqueles que não têm computador e Internet, torna-se mais um fator de desigualdade entre os alunos. 

Abertura das Creches. Acho mal. E acho mal porque não acredito que estejam garantidas as condições mínimas para garantir a segurança de todos os envolvidos, crianças, educadores, auxiliares e Pais. Sei bem que pelo que se ouve “as crianças parecem safar-se bem do vírus” mas, e os outros? Irão os Pais ficar descansados ao deixar os filhos nos infantários e irem trabalhar? Sei bem que isto é, nas palavras do Jaime Pacheco, “uma faca de dois legumes”, temos a saúde de um lado e a economia do outro, todos concordamos que a saúde é o mais importante, mas … 

Investigar os Chineses. Acho bem. Donald Trump ignorou os perigos da pandemia, vê-se a braços com milhares de mortos mas nem por isso mantém o registo de dar mais importância à economia e deixar para segundo plano a saúde. Numa coisa ele tem razão, a origem do vírus tem de ser investigada, de preferência por autoridades competentes e independentes, e se a China tiver responsabilidades elas têm de ser apuradas e obviamente que têm de existir consequências. Este vírus surgiu na cidade de Wuhan, onde se situa um laboratório de biotecnologia que trabalha com infeções virais, sendo uma das especialidades desse laboratório o “estudo da forma como os coronavírus se transmitem dos morcegos”. Entretanto, já diversos cientistas afirmaram que de acordo com as informações genéticas estudadas, o vírus tem origem natural. Eu não acredito em bruxas “pero que las hay, las hay”. 

Computadores e Internet para todos. Acho bem. Na noite que escrevo esta crónica leio com satisfação nas redes sociais a notícia de que o Município de Paredes de Coura garantiu condições de igualdade a centenas de alunos, disponibilizando computadores, tablets e internet a todos quantos não tinham. Leio com revolta alguns comentários de gente que afirma, “atenção, só foram emprestados”. Sinceramente, isso é o que menos interessa, o importante neste momento é garantir que todos os alunos têm condições semelhantes de acesso ao ensino. Há gente que quer tudo “dado e arregaçado”, lembra-me aquele provérbio chinês, não basta emprestar a cana de pesca, esta gente quer que lhe pesquem o peixe, o cozinhem, o sirvam à mesa e ainda lhe arrumem a cozinha. Haja paciência. Já em tempos o escrevi, e repito: “Fizesse o Ministério da Educação pelo país, o que o Município de Coura faz pela educação do concelho.” 

Fiquem bem.

Crónica publicada na edição 385 do Notícias de Coura, 28 de abril de 2020.

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