terça-feira, 29 de maio de 2018

As provas de aferição

Uma das primeiras medidas deste governo na área da educação foi a de acabar com os exames do 4.º e 6.º anos. Muitos argumentos se poderiam apresentar, contra e a favor, não me vou alongar nos mesmos, sob pena de estender esta crónica até ao final do verão! Nessa altura, muita gente foi buscar o “país da moda”, a Finlândia. Lá não há exames, mas tudo o resto não se compara a Portugal, portanto se querem copiar a Finlândia, copiem tudo. Outras vozes, mais preocupadas com o bem-estar das crianças, alegaram que os exames deixam as crianças nervosas e em stress. Esquecem-se que vivemos num mundo competitivo, a avaliação do que fazemos é uma constante da nossa vida e vai ser um choque bem grande para muitos alunos quando se virem “abandonados” no mundo real, sem as paredes protetoras da escola, e sem o “facilitismo” com que foram habituados. Ainda sobre esta matéria do fim dos exames, falava há uns dias com um professor de matemática que me confessava que “os alunos sabiam cada vez menos, e que desde que os exames de 4.º e 6.º tinham acabado era gritante a falta de conhecimentos de alguns.” Fiz-lhe ver as vantagens de tal prática… desde o fim dos exames o número de alunos retidos diminuiu drasticamente, houve escolas que logo nesse ano viram chegar a zero o número de retenções no 4.º ano. Mais, lembrei-lhe que não se devia preocupar com o facto de os alunos “saberem ou não saberem”, o que importa é haver poucas negativas, o que importa é que o número de alunos retidos se aproxime rapidamente do zero. Afinal, para que “diabo” precisam eles da matemática. Ainda há uns dias fui a uma loja comprar dez unidades de determinado artigo, e o funcionário pegou na calculadora e lá me disse quando tinha a pagar! Acham mesmo que é preciso perder tempo a recordar como se multiplica um número por dez?! 

Voltando ao presente, realizaram-se no início do mês as provas de aferição do 2.º ano, expressões artísticas e físico-motoras. Nas expressões físico-motoras os meninos tiveram de saltar, atirar uma bola contra a parede e agarrá-la, controlar uma bola com os pés, enfim, um sem número de habilidades cujo resultado convém mesmo aferir, não vá o Governo lembrar-se de desinvestir nas áreas físicas e canalizar essas horas para a matemática, o português, o inglês e as ciências. (Desde que me lembro de ser professor, há apenas vinte anos, que a preocupação dos sucessivos governos são essas áreas, as expressões eram, são e continuarão a ser o parente pobre do ensino, as disciplinas da 3.ª divisão, como sabiamente costuma dizer uma professora que conheço. Depois, têm a ousadia de escrever que “a escola mata a criatividade dos alunos”, como querem que seja diferente quando 75% do currículo é composto de disciplinas presas a conteúdos “pouco significativos”!?) 

Já a prova de expressões artísticas foi muito mais engraçada, cantar uma canção, improvisar uma dramatização, pintar uma caixa de ovos, enfim, coisas que ouvi dizer, não vi, portanto não posso aprofundar! 

O que vi foi que no dia da prova de expressões artísticas, por certo por falta de condições da escola, mais de 200 alunos ficaram em casa, pois na escola só estiveram os alunos do 2.º ano, pouco mais de 60. A assegurar a realização das provas estiveram cerca de 40 professores, entre professores vigilantes, aplicadores, suplentes, coadjuvantes, secretariado de exames e técnicos informáticos, entre as 8 e as 15 horas aproximadamente. Alguns alunos ficaram sem aulas, pois muitos destes professores tinham aulas, mas como é óbvio, as provas de aferição são mais importantes. Espero bem que todo este trabalho tenha alguma utilidade, que se consiga mesmo “aferir” como estão as “expressões” no 2.º ano de escolaridade, sob pena de tudo isto ser um desperdício de dinheiro público. E também nas que se avizinham, pois ainda vamos ter mais provas de aferição nos 5.º e 8.º anos, educação musical, educação visual, educação física… e depois as da 1.ª divisão, matemática e português! Não será por falta de “aferição” que o sistema educativo não melhora! 

* Toda esta crónica é pura invenção do autor, qualquer semelhança entre ela e a realidade terá de ser mera coincidência. A invenção desta história foi provocada pela constante falta de inspiração do autor na hora de escrever os textos e cumprir o prazo acordado com o Diretor do jornal para envio dos mesmos. (Podia ter escrito sobre o festival Eurovisão da canção… mas nem me lembrei)!

Crónica publicada na edição 341 do Notícias de Coura, 22 de maio de 2018.

Sem comentários:

Enviar um comentário