segunda-feira, 17 de março de 2025

Vamos para eleições.

As últimas eleições legislativas foram há um ano. Parece que está na altura de voltar às urnas.

A atualidade política dos últimos dias tem sido marcada pelo caso dos negócios da empresa de Luís Montenegro, ou será melhor dizer da ex-empresa? Ou até, do ex-1.º Ministro!? Sobre este assunto não posso perder a oportunidade de deixar aqui algumas considerações:

- Luís Montenegro foi descuidado, desatento, irresponsável… ou então pensou que os jornalistas não lhe iriam vasculhar o passado e tentar descobrir qualquer coisinha! Pior, continua a pensar que somos todos parvos e achamos a situação normal. Eu até acredito na seriedade do homem, mas que não parece, não parece.

- Pedro Nuno Santos teve uma frase que explica tudo: “A empresa é Luís Montenegro.” E isso é óbvio. Não interessa quem são os acionistas, os funcionários ou os colaboradores, todas os clientes estão lá pela pessoa do 1.º Ministro. E não é pelo trabalho dele, porque provavelmente ele nem fazia nada, mas sim pela influência que um dia possa vir a ter. A maior riqueza que os políticos têm quando abandonam os seus cargos são os conhecimentos que trazem e as pessoas que conheceram, sabem melhor que ninguém como funciona o “sistema”, seja lá isso o que se quiser imaginar.

- O PCP caiu na armadilha do discurso de Luís Montenegro quando se apressou a dizer que iria apresentar uma moção de censura. Devia ter esperado. Bastava que toda a oposição afirmasse não ter confiança e, portanto, esperar pela apresentação da moção de confiança. Mas as coisas agravaram-se de tal forma no dia de hoje*, que a queda do governo está por dias.

- O Senhor Presidente tem andado calado, e bem, mas hoje não resistiu e até já fala em datas para as eleições. Nunca um Presidente convocou tantas eleições antecipadas como Marcelo Rebelo de Sousa. Espero que o próximo Presidente ponha os políticos todos em sentido!

- A menos que algo de muito escandaloso aconteça, temo que os próximos resultados eleitorais tornem o futuro ainda mais incerto. Embora eu gostasse que o Chega tivesse menos gente na Assembleia da República, a bem da imagem da instituição, receio que tal não aconteça. O eleitorado do Chega gosta daquilo que temos visto. Tal como o eleitorado de Donald Trump gostou da cena vergonhosa da conversa com Zelensky. Quanto ao vencedor das eleições até acredito que possa ser o PS, mas isso talvez seja o pior que pode acontecer a Pedro Nuno Santos. Como irá ele formar maioria? Dificilmente o PCP e o Bloco subam os seus já fracos resultados, e o Livre e o PAN não chegam para nada. Quem resta!? O Chega!? Iria o Chega viabilizar um governo de esquerda!?

- A minha previsão é uma aposta arriscada, mas que receio possa vir a acontecer: PS ganha, mas não consegue formar governo; PSD perde, Montenegro abandona a liderança e o próximo líder faz um acordo com André Ventura. Este é um cenário assustador, e que só não vai ser um desastre autêntico se o líder do PSD for alguém que consiga ter mão em André Ventura. Quem será!? Em 2021, num debate para as presidenciais, André Ventura demorou 6 segundos a responder à pergunta: “Seria mais fácil o Chega entender-se com o PSD se fosse Pedro Passos Coelho o presidente?” Será que ele vem aí de novo?

Termino com a certeza de que não me vai faltar assunto para as crónicas que se avizinham, a política nacional está a queimar. E assim se esquecem os problemas na saúde, na educação, na habitação, na criminalidade… ou será que já não existem?



* Escrevo este artigo um dia depois do prazo que normalmente cumpro. Se calhar até calhou bem, se o tenho escrito a tempo talvez o assunto fosse o mesmo, mas o título seria obviamente diferente, e muito menos atrativo!


Crónica publicada na edição 497 do Notícias de Coura, 11 de março de 2025







terça-feira, 4 de março de 2025

Não é liberdade de expressão, é falta de educação.

Já não é de agora que se ouve falar nos constantes insultos dos deputados do Chega, não só no hemiciclo como nos corredores da Assembleia da República.

Em 2024 a deputada Romualda Fernandes foi brindada com um jocoso “Boa noite!” por parte de um deputado do Chega quando em plena luz do dia a deputada abriu a porta da sala das comissões. Se a deputada fosse branca não haveria lugar a esta “brincadeira”. Pelos corredores, as deputadas socialistas queixam-se de serem chamadas de vacas e ouvirem mugidos por parte dos deputados do partido de André Ventura. Na verdade, o discurso destes deputados é tão pobre que se calhar é mesmo melhor ouvir um mugido ou um grunhido. Há dias, a deputada do PS Ana Sofia Antunes foi acusada pelo Chega de só falar de temas que incluem deficiências, uma ofensa gratuita e baixa a uma deputada que é invisual. O bate-boca que se seguiu foi vergonhoso, com Filipe Melo do Chega a dizer que Isabel Moreira do PS é uma aberração e estava drogada e Isabel Moreira a mandar o deputado do Chega pagar as pensões que deve aos filhos. (Isto é mais vergonhoso que as discussões que se ouvem nas piores tascas entre os piores bêbados do bairro.)

Dias antes, o ex-deputado do Chega Miguel Arruda, agora deputado não inscrito, tinha sido brindado durante o seu discurso de um minuto com algumas piadas: “Cuidado com a mala!”; “Camisas a 1 euro!”. Obviamente que ele se pôs a jeito, mas a Assembleia da República não é o lugar para estes comportamentos. O povo português tem de uma vez por todas de perceber que tipo de gente é que está a colocar na casa da democracia. É esta gente que tem o poder de legislar e condicionar o nosso futuro.

Obviamente que a educação vem de casa, e no caso de muitos deputados é notório que não se pode ter aquilo que se calhar nunca lhes deram. Não é fácil legislar a falta de educação, mas, o Sr. Presidente da Assembleia da República não pode esconder-se no argumento que a liberdade de expressão não pode ser limitada e que os portugueses, a seu tempo, condenarão nas urnas estes comportamentos. É altura de ter coragem de tirar a palavra a estes deputados e até de os mandar sair do plenário quando ofendem gratuitamente outros membros da Assembleia da República. É tempo também de todos os partidos que se sentem ofendidos deixarem de falar com o Chega, ignorar as suas intervenções e deixá-los a falar sozinhos. Tenham a coragem de quando cenas semelhantes se passarem abandonarem os seus lugares até que a ordem seja restabelecida. Nunca admirei a personalidade de Augusto Santos Silva e critiquei-o muitas vezes pela forma como lidou com André Ventura, mas a bondade e a pedagogia constante de Aguiar Branco já irritam, e pior, não funcionam. Estou prestes a concluir esta crónica profundamente irritado, como se diz por Trás-os-Montes, “não devemos gastar cera com ruins defuntos”, mas neste caso, é a única forma que tenho de ajudar a combater esta gente mal educada que não merece o reconhecimento que o povo português lhe decidiu dar. Não é pelo facto de ter escrito a palavra defunto que me lembrei de Pinto da Costa, que faleceu há poucos dias aos 87 anos. Nunca foi personalidade pela qual tive admiração, embora muitas vezes pelos caminhos errados, o F. C. Porto deve-lhe “quase” tudo aquilo que é hoje. Também nem sempre da forma mais correta nem com as palavras mais certas combateu aquilo que ele chamava de “centralismo de Lisboa”. Aquela história de “querer ver Lisboa a arder” é ao que parece um boato. Pinto da Costa provou que não é preciso incendiar nada para erguer a nossa voz e mostrar a nossa força. Há trinta ou quarenta anos Portugal era Lisboa, e o resto paisagem. Hoje, ainda é em Lisboa que se tomam as grandes decisões, mas o resto do país já percebeu que isso não é motivo para se sentir menos importante ou menos capaz. Até as pequenas terras já provaram que não precisam da capital para se sentirem, e serem o centro do mundo.


Crónica publicada na edição 496 do Notícias de Coura, 25 de fevereiro de 2025



segunda-feira, 17 de fevereiro de 2025

Vou viajar, mas só levo bagagem de mão!

Não podia de forma nenhuma deixar passar a oportunidade de escrever sobre isto!

Deputado do Chega na Assembleia da República suspeito de roubar malas nos Aeroportos de Lisboa e Ponta Delgada. Usando uma expressão popular que desde há décadas conheço: “Isto não lembrava nem ao diabo!” Por mais motivos que se tentem encontrar é difícil descobrir razões para uma “proeza”* desta magnitude. Um deputado tem um vencimento bem generoso, recebe também ajudas de custo que fazem inveja a milhares de trabalhadores do país, não tinha necessidade de roubar malas para depois vender a roupa a preços simbólicos numa plataforma online. (E sobre a roupa nem me vou pronunciar sobre o facto de, ao que se suspeita, não ser vendida a roupa de criança. Espero que o caso não fique ainda mais tenebroso.) O local onde o decidiu fazer é prova suficiente para ter uma ideia da inteligência do artista! Haverá lugar mais vigiado que um aeroporto!? André Ventura deve ter ficado fora de si, ao menos teve a decência de o condenar e até pelos vistos de o pressionar a deixar a Assembleia da República. (Dizem as más-línguas que os deputados do Chega o chegaram a apertar fisicamente, deviam ter sido mais brutos, talvez resultasse. Eu não os condenaria!) Mal esteve o líder do Chega Açores, ao vir com a conversa sobre da “presunção de inocência” e “deixar à justiça o que é da justiça” ou “agora é o tempo da justiça”, fez lembrar os políticos dos grandes partidos quando têm chatices destas com os seus camaradas. Entretanto, o Sr. Deputado Miguel Arruda diz que vai meter baixa psiquiátrica, e depois volta como deputado independente, com gabinete próprio e mais de cinco mil euros por mês para despesas. Ficará bem melhor. Espero que os seus vizinhos façam alguma coisa para que o nome da sua terra não continue nas notícias por maus motivos.

Já que viajei até aos Açores, e não corro o risco da minha mala desaparecer, pois só levo bagagem de mão, vou dar um saltinho ali a Washington D.C. e dar uma ajuda ao Presidente Trump. Vi nas notícias uma imagem de Donald Trump, sentado à sua secretária da Casa Branca a assinar dezenas de despachos, em capas pretas de tamanho A4. Não havia necessidade de ser em papel, além de ser um gasto desnecessário, e “matar” imensas árvores, dá uma imagem de desorganização e atraso tecnológico. Nem sei como Elon Musk ainda não reparou nisto. Levo comigo o meu portátil e um leitor de cartões de cidadão, espero que eles me deixem usar a internet para lhes mostrar o que é a assinatura digital e a forma segura de assinar documentos online. (Peço a algum emigrante que eventualmente passe junto à Casa Branca, para meter uma fotocópia do meu artigo na caixa de correio!) Agora mais a sério, que o homem era louco já todos sabíamos, mas nunca pensei que todos os dias fizesse da loucura, lei: deportar imigrantes ilegais compreendo, agora que viajem de pés e mãos atados é desumano; que ajuste as tarifas dos produtos chineses percebo, agora fazê-lo ao Canadá é uma péssima ideia, país do qual depende em termos energéticos. Já nem vou falar da ideia absurda de querer anexar Canadá e Gronelândia. Há que fazer frente a este homem, só quando sofrer na pele as consequências das suas decisões é que o povo americano vai perceber a asneira que fez, não sei se não será tarde demais.

Para que esta crónica não seja só falar de “gente louca”, não posso falar desta vez dos candidatos presidenciais! Termino a crónica salientando a coragem do líder do PS, Pedro Nuno Santos, em reconhecer a necessidade de o país não ter as portas abertas sem criar condições dignas para quem vem trabalhar para Portugal. Controlar as fronteiras é lutar contra o tráfico e a exploração de mão-de-obra que existe no nosso país, e não é uma perceção, é um facto. Já na parte de assumirem a nossa cultura e os nossos hábitos, esteve mal. O que todos têm obrigação é de respeitar e cumprir as nossas leis.



* Uso o termo proeza não no sentido mais conhecido da palavra, ser um ato de valor ou uma façanha, mas por ser a expressão que a minha esposa usa quando eu faço alguma daquelas coisas que também não lembram ao diabo!


Crónica publicada na edição 495 do Notícias de Coura, 11 de fevereiro de 2025



segunda-feira, 3 de fevereiro de 2025

E se correr mal?

Anunciei na última crónica dedicar esta aos meu desejos para 2025, mas como os meus desejos nem sequer a mim interessam muito, vou deixar aqui alguns assuntos que me inquietam, a mim e ao mundo, e que podem mesmo correr mal.

Rúben Amorim: Não podia deixar de começar por aquele que ajudou a dar título a esta crónica. Quando foi de Braga para o Sporting por dez milhões de euros, alguém o questionou como se justificaria tamanho investimento se o mesmo viesse a correr mal. Amorim respondeu: - E se corre bem!? E correu bem, aliás muito bem. Quando se confirmou que iria treinar o Manchester United pensei: - E se corre mal? Obviamente que hoje é fácil perceber que está a ser difícil, ainda assim, acredito que vai correr bem. Acredito tanto que irei apostar alguns euros no United como vencedor do próximo campeonato em Inglaterra.

Donald Trump: Está prestes a tomar posse, diz-se o mundo aguarda com alguma expetativa, mas eu quero acreditar que é mais medo do que outra coisa. Trump garantia há alguns meses que iria terminar com a guerra na Ucrânia com um telefonema. Já percebeu que nem com um telefonema, nem com meia-dúzia, acredito que Putin até aceitasse algum tipo de cessar-fogo, desde que ficasse com os territórios entretanto conquistados, e com a garantia que a Ucrânia não aderisse à NATO, mas Zelensky jamais aceitará. Além desta guerra, Donald Trump fala em anexar o Canadá e em tomar posse da Gronelândia e do Canal do Panamá. Quando ouvi isto pensei: - Enlouqueceu de vez. Mas se calhar, Trump percebeu que a Gronelândia está a descongelar e é rica em minerais e até em petróleo, além disso, com o descongelamento podem-se abrir rotas árticas que seriam vantajosas para as exportações de produtos americanos para a Ásia e a Europa; anexar o Canadá traria benefícios económicos significativos às contas dos EUA; controlar o Canal do Panamá limitaria a circulação de navios, tentando dessa forma combater o sucesso do mercado Chinês pelo mundo. Mesmo quando tudo isto é justificado por razões de segurança interna, são as questões económicas verdadeiramente interessam. Este segundo mandato de Donald Trump tem tudo para correr mal, ainda mais quando tem como assessor Elon Musk, um louco viciado em trabalho. Era bom que pusesse a sua incrível capacidade empreendedora ao serviço do bem.

Gouveia e Melo: A mais do que previsível candidatura do Vice Almirante Gouveia e Melo não é coisa que pessoalmente me preocupe. Reconheço-lhe o mérito de ter colocado ordem na campanha de vacinação contra o Covid-19 e de ter acabado com as “vigarices” típicas que sempre têm lugar neste nosso Portugal. A sua possível candidatura está a correr mal para os partidos, pois estão a ficar com a noção que vão perder influência, pois dificilmente um militar lhes vai deixar “meter o nariz” onde não devem. Mas o pior para os partidos é verificarem que não têm nenhum candidato à altura de lhe fazer frente, já perceberam que os portugueses acreditam cada vez menos nos políticos de carreira. Da parte do PSD já se imagina que será Marques Mendes, do PS só ainda não se sabe quantos candidatos serão (mais uma vez, o PS vai-se anular internamente), do Chega não poderia ser outro que não André Ventura (a ver se tem uma votação que o faça descer do pedestal), dos outros partidos, sejam quem eles forem, é apenas para fazer ruído. Para os partidos do sistema vai certamente correr mal, para Gouveia e Melo, correr mal significa ter de ir a uma segunda volta.

As certezas do costume: Ao jeito de alguns dos melhores “bruxos” conhecidos, também eu me debrucei sobre a minha bola de cristal e consegui prever algumas das coisas que vão acontecer em 2025: vamos ter algumas catástrofes naturais pelo mundo, incêndios, derrocadas e inundações vão afetar muitos milhares de pessoas; as alterações climáticas não vão abrandar, o gelo vai continuar a derreter e a temperatura média a subir; em Portugal, tal como no mundo, vão morrer alguns artistas e personalidades muito conhecidas; o discurso político em Portugal vai continuar picante, cada vez mais ofensivo e com muito pouco conteúdo; eu sou capaz de continuar a ter alguns problemas em arranjar assunto para escrever as minhas crónicas para o Notícias de Coura. (Mas neste particular, não irá correr mal!)

Bom ano de 2025 a todos os leitores!

Crónica publicada na edição 494 do Notícias de Coura, 28 de janeiro de 2025





domingo, 19 de janeiro de 2025

200!

Esta é uma crónica há muito preparada! Quando em setembro de 2020 escrevi a crónica número 100, prometi só voltar a lembrar alguns dos meus textos quando chegasse à número 200! Cá estamos. Quem diria que chegaria tão longe quando em 2012 o Tinoco me convidou a escrever para o Notícias de Coura. Tem sido uma responsabilidade, mas acima de tudo um prazer! Vamos lá então passar em revista as últimas 99 crónicas!

2020: Deste ano saliento duas crónicas, a do mês de novembro quando Donald Trump perdeu as eleições presidenciais americanas. Admirava-me eu na altura de ele ter tido quase 70 milhões de votos, quatro anos depois teve quase 80 milhões, e foi novamente eleito Presidente. Em dezembro fiz um tributo ao “Paredes de Coura Terra Amada”, um grupo do Facebook com cerca de 16 mil membros. Hoje tem quase 22 mil e continua a espalhar a imagem de Coura pelo mundo.

2021: Comecei o ano com uma crónica de esperança, especialmente na vacina que nos poderia trazer de novo à normalidade e alegrei-me quando em maio, finalmente o “povo foi solto” e voltámos a ter muitas das liberdades suspensas pela Covid-19. Pouco mais me lembro deste ano, apenas de que em setembro quase falhei o prazo de envio da minha crónica para a redação do Notícias de Coura, culpando nessa altura os efeitos secundários da vacina Pfeizer!

2022: Em maio escrevi que tinha começado uma guerra que nos devia envergonhar. Já passaram mais de dois anos e meio, a Ucrânia está praticamente destruída e tanto o Ocidente como os EUA preparam-se para conversar com Putin. Vai voltar a acontecer como em 2014 depois da invasão da Crimeia, vão-lhe dar conversa e ficar de novo amiguinhos, daqui a meia dúzia de anos ele volta a atacar. Terminei o ano quase a falar sobre o caos que se vivia nas urgências da região de Lisboa, mas acabei a agradecer a Ronaldo tudo o que tinha feito por Portugal, depois de o ver abandonar o estádio sozinho e em lágrimas.

2023: Comecei o ano com o “Habituem-se” de António Costa, a sua expressão era a prova provada do seu caráter prepotente e teimoso, não imaginava ele, nem nós, que no final desse ano estaria a pedir a demissão. Pelo meio, fui escrevendo sobre a crise na habitação, as trapalhadas na TAP, o Benfica campeão e a vaga de calor na Europa. Terminaria o ano a escrever sobre a enorme barafunda em que o Dr. Nuno Rebelo de Sousa meteu o seu Pai, o Dr. Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República. Este caso parece ter ficado adormecido, mas já ninguém tem dúvidas que foram mexidos os cordelinhos certos para proporcionar uma consulta às duas crianças brasileiras.

2024: Como acontece quase todos os anos, foi em abril que me lamentei da falta de ideias e prometi escrever sobre “As minhas pessoas de Coura”, sempre que chegasse ao limite e não tivesse outro assunto. Será em 2025 a primeira edição deste título, com ideias ou sem elas, estas pessoas já merecem. Em novembro provoquei os leitores de Coura quando dei a uma crónica o título “Fui ao teatro a sério.” Então e os treze anos em Coura? E as noites passadas com o TAC no palco do Centro Cultural? E os quilómetros a acompanhar as Comédias do Minho? Foi só uma provocação, despachem-se lá a anunciar as datas do próximo FITAVALE que eu estou desejoso de aí voltar!

Está pronta a crónica número 200. Bate todos os recordes, foi pensada há mais de quatro anos e escrita a mais de três semanas de o jornal ser publicado. (Estou a escrevê-la dia 22 de dezembro!) Como estou numa maré de trabalho antecipado, a minha segunda crónica de janeiro será sobre os desejos para 2025, e lá para 2029 espero ter uma crónica intitulada: 300!


Crónica publicada na edição 493 do Notícias de Coura, 14 de janeiro de 2025



domingo, 22 de dezembro de 2024

Já CHEGA disto.

No passado dia 29 novembro, e quando os deputados votavam o Orçamento de Estado e aprovaram o fim do corte de 5% no salário dos políticos, o partido Chega pendurou tarjas nas janelas da Assembleia da República (AR). O Presidente da AR, José Pedro Aguiar Branco, “considerou esta ação como um momento de vandalismo contra um património nacional” mas não teve a coragem de suspender imediatamente os trabalhos. Quando solicitou a André Ventura que retirassem as tarjas e este se negou a fazê-lo, não devia ter anunciado o que iria fazer, chamava os bombeiros para o fazer e a polícia para identificar os autores de tal vandalismo. E obviamente que é vandalismo, pois se fosse um qualquer cidadão que o fizesse seria preso imediatamente. A imunidade dos deputados não pode chegar para tudo. Faltou também coragem a todos os deputados que pediram a suspensão dos trabalhos e não a viram atendida pelo Presidente da Assembleia da República, deviam ter-se retirado, não estavam garantidas as condições de segurança e tal comportamento era uma séria forma de coação à votação do Orçamento de Estado. André ventura apressou-se a dizer que não era vandalismo, eu queria ver se fosse uma tarja a apoiar as touradas ou a causa LGBT o que ele diria.

Será que já se esqueceram da invasão do Capitólio nos EUA em 2021? E dos ataques aos palácios dos 3 Poderes no Brasil? Não se admirem se dentro de muito pouco tempo acontecer uma coisa parecida em Portugal. Basta ver o que se vai passando nas redes sociais, há grupo radicais infiltrados, especialmente de direita, que incendeiam tudo, querem é agitação, barulho, confusão.

Nos dias seguintes ouviram-se alguns deputados de partidos políticos de esquerda a acusar os deputados do Chega de serem insolentes e mal-educados na Assembleia da República. Não precisamos de provas para acreditar, obviamente que o são, mas dizer só na televisão não chega. Façam chegar essas queixas às autoridades, obriguem o Senhor Presidente da AR a ter pulso forte e coragem para mandar sair da AR os deputados que ofendem outros, porque tem esse poder. E se ele não o fizer, abandonem os trabalhos, ninguém é obrigado a estar no seu local de trabalho, ainda mais na casa da democracia, a ser humilhado dessa forma. Então aceita-se que quando a deputada do PAN, Inês Sousa Real fala sobre touradas, os deputados do Chega gritem “Olés”? Chamo-lhes deputados por respeito a este jornal e aos seus leitores, apetecia-me chamar-lhes outra coisa.

Concordo com algumas das coisas que André Ventura diz, que as fronteiras do país não podem estar escancaradas; que há crimes que deviam ter penas muito mais severas; que há apoios descontrolados a gente que simplesmente não quer trabalhar nem respeita as leis do país, mas jamais votarei num partido que envergonha a própria democracia, e mesmo que tenha vontade de fazer um voto de protesto, não será certamente no Chega. Haja paciência, ninguém tem mãos para pôr esta gente no seu devido lugar? O povo tem mãos, tem pelo menos a mão que segura a caneta no dia do voto. É isto que querem?

Vou terminar com dois ou três apontamentos distintos. Ruben Amorim seguiu o seu sonho e foi para Inglaterra, não tenho dúvidas que será feliz. O Sporting bem tentou disfarçar a perda, mas a avaliar pelos últimos resultados está num período de luto que se recusa a aceitar, e tenho pena. Apesar de não ser sportinguista, habituei-me a gostar das vitórias de uma equipa com um grupo de adeptos fantástico, não mereciam estar a passar por isto. Mas no futebol, quem manda é o dinheiro, temos mesmo de nos habituar! Cá por Portugal também o F.C. Porto vive uma crise de resultados e de falta de dinheiro, mas pelo menos sente-se uma limpeza e honestidade no clube que há muitos anos não se via. Talvez seja melhor assim. 2024 está a acabar, um ano marcado pelo regresso de Donald Trump, pelo escalar da guerra no Médio Oriente e na Ucrânia, por tragédias climáticas, algumas bem perto de nós; pela subida da extrema-direita em cada vez mais países. Se tudo isto não é uma terceira guerra mundial, não estará muito longe.

Desejos sinceros de um feliz Natal e de um próspero ano de 2025!


Crónica publicada na edição 492 do Notícias de Coura, 17 de dezembro de 2024



terça-feira, 10 de dezembro de 2024

Joe Biden: o incendiário.

Joe Biden “foi obrigado” a desistir da corrida às eleições presidenciais norte americanas por motivos meramente políticos. O partido democrata deu-se conta, tarde demais, que a sua idade e condição física, bem como o seu estado mental estavam a deitar tudo a perder, e as sondagens comprovavam-no semana após semana. Foi tão tarde que não lhes restou outra alternativa que não fosse atirar Kamala Harris para o campo de batalha. Durante uns dias a situação parecia querer mudar, mas no final, a derrota foi estrondosa.

Pelo mundo surgiram desde logo grandes indignações, presságios tão assustadores que me fizeram palavras de Passos Coelho quando em 2016 se despediu dos deputados do PSD dizendo: “Gozem bem as férias que em Setembro vem aí o diabo.” Biden também se está a despedir dos Americanos e do Mundo, mas ao contrário de Passos Coelho ele não promete para janeiro a vinda do diabo, ele próprio abre já a porta ao diabo, convida-o a entrar e dá-lhe carta branca para fazer das suas. A decisão de autorizar a Ucrânia a atacar o interior da Rússia com mísseis de longo alcance é pura malvadez política, é uma decisão que põe em risco a segurança mundial, e é tomada única e simplesmente pelo facto de Donald Trump ter ganho as eleições. Trata-se de uma mera armadilha para Trump, para o obrigar a suspender esta decisão e passar por mau da fita! Ser o mau da fita é coisa que de certeza não preocupa minimamente Donald Trump.

Nunca percebi a justificação dada tanto pela América como pela Europa de não autorizar a Ucrânia a atacar, se ajudamos um país dando-lhe armas e munições não devemos impor condições sobre a forma como ele as vai utilizar. É a mesma coisa que dar uma esmola a um pobre e não o autorizar a comprar doces porque lhe vão fazer mal aos dentes. Indo buscar aqui uma inspiração futebolística, a melhor defesa é o ataque, e quem joga para empatar, normalmente perde. A América justificava a proibição de uso de mísseis por serem de fabrico norte-americano, mas a maior parte deles nem sequer são lá fabricados, são de fabrico francês e britânico, apenas tinham o sistema de navegação feito na América. Autorizar agora a Ucrânia a atacar é quase uma ofensa.

Entretanto, Putin mantém o seu discurso ameaçador, e enquanto não houver alguém que verdadeiramente lhe levante a voz, não vai mudar de tom. Na televisão Russa ouvem-se por vezes notícias que afirmam que “Conseguimos atingir Londres em 13 minutos e Paris em 9 minutos.” Putin afirma que testou um novo modelo de míssil balístico de médio alcance, mas que informou os EUA desse teste, que o mesmo foi um ensaio para agora poder começar a sua produção em série. Ao mesmo tempo, o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov, considerou que o uso pela Ucrânia de mísseis de longo alcance é um sinal claro de que o Ocidente quer escalar o conflito, e que vai responder diretamente a esses países, afirmando mesmo: “Quem está a lançar esses mísseis não é a Ucrânia, são os países que lhos forneceram.” E pior, Moscovo volta a justificar que o uso de armas nucleares pode ser a resposta a qualquer ataque a território russo.

O conflito está a entrar numa fase demasiado perigosa, e quem vai em janeiro ter um papel decisivo no seu desenvolvimento é, além de perigoso, louco… Donald Trump. Obviamente que não vai terminar a guerra com um telefonema. Nem lhe interessa muito, até porque já deve estar a ter grandes pressões do setor empresarial ligado ao armamento. Se a guerra acabasse, a quem essas empresas iriam depois vender armas e munições? Alimentar a guerra para os lados de Israel e do Irão não seria suficiente. Na minha humilde opinião, a Ucrânia nunca mais vai recuperar os territórios perdidos, e quanto mais tarde abdicar, mais território perderá. (E acredito mesmo que é isto que vai acontecer, Zelensky nunca irá aceitar perder um metro quadrado que seja.) Apesar de tanto a América como o Ocidente terem dito que nunca iriam deixar de apoiar a Ucrânia, mais tarde ou mais cedo vão fazê-lo. Se o não fizerem, teremos mesmo uma guerra de proporções mundiais. Países como a Noruega, Finlândia e Suécia já estão a preparar as suas populações para o pior. Talvez fosse o momento de outros também o fazerem.

Pela leitura das minhas últimas crónicas, os leitores do Notícias de Coura decerto acham que me tornei pessimista e um bocadinho depressivo. É melhor não lhes contar que tripliquei o stock de água, atum, massa, arroz e feijão. A minha geração nunca imaginou viver uma guerra, também nunca imaginámos viver uma pandemia.


Crónica publicada na edição 491 do Notícias de Coura, 3 de dezembro de 2024