segunda-feira, 27 de outubro de 2025

Políticos inúteis.

Não posso deixar de pedir desde já desculpa aos políticos que ficaram indignados com o título desta crónica, e são em grande número uma vez que este é um jornal de Coura, uma terra que me permitiu conhecer alguns que me fizeram ter a certeza de que de facto “os políticos não são todos iguais”. Ao mesmo tempo, este é um título que agarra logo nos leitores, há tanta gente que adora falar mal dos políticos que por momentos se esquecem que são eles que os elegem (eles não, nós, pois também eu já ajudei a eleger alguns que não o mereciam).

Esta crónica vai ser publicada uma semana depois das eleições autárquicas, mas está a ser escrita uns dias antes, pelo que as minhas palavras não terão qualquer influência na intenção de voto de ninguém. Além do mais, o resultado destas eleições só me interessa em duas ou três freguesias: Vilarandelo, em Trás-os-Montes, onde espero que a junta se mantenha entregue a quem tratou de arranjar o caminho para a casa dos meus Pais; Samouco, onde resido, e onde o atual elenco camarário tem alcatroado muitas das estradas que uso, inclusive até à minha porta, e apesar de estar zangado com o partido em termo nacionais, votarei certamente de forma útil, também para ajudar a que determinado partido de extrema-direita não pense que é maior do que aquilo que infelizmente já é; e depois Coura, onde naturalmente a autarquia continuará muito bem entregue, na talvez única autarquia nacional que tem a ousadia de estabelecer como prioridades a educação e a cultura.

Introdução feita, está na hora de bater nalguns políticos, daqueles que me apetece incluir no grupo de “gente que não interessa”!

Mariana Mortágua, líder do Bloco de Esquerda e deputada única do partido, embarcou numa flotilha humanitária a caminho de Gaza. A acreditar nas intenções da mesma, o objetiva é levar ajuda humanitária, alimentos, medicamentos e outros bens essenciais. Afirmam também querer chamar a atenção do mundo para o genocídio que se está a viver na Palestina. Não é necessária nenhuma flotilha para tudo isto, eu até louvo a intenção, mas é óbvio que o que procuram é mediatismo e tempo de antena. Todo o mundo sabe que o ataque do Hamas a Israel a 7 de outubro é inqualificável; todo o mundo sabe que o Hamas é um grupo terrorista que usa o povo como escudo e que é urgente eliminar; todo o mundo sabe que por mais que haja acordos de paz, o Hamas nunca vai deixar de existir e lutar pela sua pátria (embora o faça de forma deplorável); mas também todo o mundo sabe, ou devia saber, que o ataque do Hamas serviu de pretexto a Israel para tentar acabar de vez com a Palestina, para tentar ocupar definitivamente uma terra que nunca lhe pertenceu.

Embora Mariana Mortágua não mereça grandes aplausos pela atitude, Nuno Melo, Ministro da Defesa, merece ainda menos pelas declarações proferidas sobre a mesma. Mesmo tendo alguma razão quando diz que foi um gesto panfletário, é absurdo dizer que os ativistas foram em direção à Faixa de Gaza para defender um grupo terrorista e que ele prefere estar ao lado da democracia e da liberdade. É triste saber que um ministro de Portugal está ao lado de Israel, na sua demanda pela ocupação total definitiva da palestina e pela eliminação do seu povo, pois é isso que Israel sempre pretendeu. Não nos devemos surpreender, este é o ministro que afirmou há tempos que “Olivença é nossa.” Nas palavras de um comentador, “Isto é Nuno Melo, a ser Nuno Melo.” É o preço que o PSD paga pela formação da AD, e por ter de dar uns lugares de destaque ao CDS-PP.

Para terminar, não posso deixar de aproveitar a atribuição do prémio Nobel da Paz à líder da oposição da Venezuela, Maria Corina Machado, para trazer à crónica o político mais inútil de todos os tempos. Donald Trump passou semanas a afirmar que o prémio teria de lhe ser atribuído, que só ele o merecia pois já teria acabado com inúmeras guerras. Consegue ser ainda mais ridículo quando afirma que Corina Machado lhe ligou a dizer que aceita o prémio em sua homenagem. Mas será que não há ninguém com coragem suficiente para chamar mentiroso a Donald Trump?

Crónica publicada na edição 511 do Notícias de Coura, 21 de outubro de 2025





terça-feira, 14 de outubro de 2025

A tasca das gravatas

Em maio de 2016 escrevi uma crónica intitulada “O circo das gravatas!” Os deputados brasileiros votavam o impeachment à Presidente Dilma Rousseff, e eu admirava-me com as intervenções absurdas de alguns deles. Nos últimos dias estive atento a algumas das intervenções dos deputados portugueses na Assembleia da República, enquanto no Brasil dá vontade de rir, aqui entre nós a situação só pode envergonhar quem se der minimamente ao respeito. Alguns deputados que estão na nossa Assembleia da República têm comportamentos que estão ao nível das tascas mais brejeiras e mal frequentadas que possamos imaginar. Como portugueses temos mesmo de olhar para tudo isto e ter consciência que é esta gente que nos representa e que toma decisões que influenciam a nossa vida. É nestas alturas que eu percebo as razões que levam muita gente a abster-se e a não votar.

Começo pelo desagradável momento em que o deputado Filipe Melo do Chega envia beijinhos à deputada do PS Isabel Moreira, escrevi desagradável porque me pareceu a palavra mais suave para substituir todas aquelas que me vieram à cabeça: nojento, asqueroso, repugnante e imundo. Situação absolutamente vergonhosa, um vice-presidente da Assembleia da República, em plena sessão de trabalho a ter um comportamento daqueles. Comparado a isto, os corninhos que Manuel Pinho fez em 2009 eram uma mera brincadeira. Nessa altura os ministros demitiam-se por coisas assim, nos dias de hoje, não há vergonha, tudo se pode fazer na mais inaceitável impunidade. Já na anterior legislatura tinham vindo a público algumas das frases com que os deputados do Chega brindavam as deputadas assumidamente lésbicas: ou lhes chamavam vacas ou mugiam à sua passagem. Numa outra altura, a deputada Rita Matias chamou “senil” à deputada socialista Edite Estrela. Quando o Presidente Brasileiro Lula da Silva discursou na Assembleia da República, os deputados do Chega protestaram energicamente, batendo com as mãos nas mesas e mostrando cartazes onde se podia ler: “Chega de corrupção.” Rita Matias tinha um cartaz diferente, dizia “Lugar de ladrão é na prisão.” Estaria já a adivinhar o futuro do amigo Bolsonaro!? Há cerca de um ano o Chega protagonizou outro momento lamentável quando pendurou tarjas de protesto nas janelas da Assembleia da República. Em todos estes momentos de desrespeito pela instituição há um denominador comum, o partido que se diz de fora do sistema, e que afirmou querer implodir com o mesmo. Alguém tem de ter mão nesta gente, sob pena de tornar a Assembleia da República um local pouco aconselhável para se frequentar. (Há muitos anos fui com alguns alunos visitar o trabalho dos deputados, atualmente seria incapaz de o fazer, se eles vissem aqueles comportamentos eram bem capazes de achar que os podiam replicar na sala de aula.) Já esta crónica estava alinhada quando mais um momento hilariante acontece: Pedro Frazão, do Chega, acusa Hugo Soares de o ameaçar com porrada, quando na verdade o que ele lhe queria dar era a morada! Estas situações têm muito mais piada no parlamento japonês, quando os deputados se zangam partem mesmo para o confronto físico.

Em todos os locais de trabalho há momentos que podem ser divertidos e descontraídos, mas nunca atingir o limite da falta de educação. Paulo Núncio, deputado do CDS e defensor da tourada, foi colhido por um bezerro em Vila Franca de Xira. Dias depois, quando começava a sua intervenção na AR foi brindado pela oposição com um sonoro “Olé!”. O próprio Paulo Núncio riu-se com a situação, e os trabalhos continuaram normalmente. Saber fazer humor de forma inteligente não está ao alcance de todos.

Já basta de coisas tristes e feias, está na fora de terminar este texto e quero fazê-lo com algo extraordinário, a capa da última edição do Notícias de Coura dava destaque às meninas que são o vosso orgulho: o Coura Voce. Quando penso nalgumas coisas que Coura tem, especialmente nas áreas da educação e da cultura, lembro-me daquela canção que certamente conhecem: “O que é que Coura tem, tem tudo como ninguém!”



Crónica publicada na edição 510 do Notícias de Coura, 7 de outubro de 2025