domingo, 18 de maio de 2025

Apagões.

No passado dia 20 de abril o mundo foi surpreendido quando o Papa Francisco apareceu aos fiéis na varanda da Basílica de São Pedro para a bênção "Urbi et Orbi". Com uma enorme fragilidade na voz para ler o seu discurso, aquele homem fraco e doente teve ainda forças para dar a volta à praça e saudar os fiéis. Tudo isto em pleno dia de Páscoa, o dia da ressurreição, da vitória da vida sobre a morte, da promessa na vida eterna. E mesmo para quem não foi capaz de ver nisto um sinal, o dia seguinte foi a prova de que há nas questões da fé algo que nos transcende, um acontecimento que não passa de um facto, (alguém frágil e doente, morrer), fazem-nos acreditar em mais alguma coisa. Nem que seja por necessidade de precisarmos de acreditar em algo melhor que nós, algo que justifique a nossa existência, algo que nos faça ter esperança em combater as asneiras e disparates que fazemos nos dias que vamos vivendo. A morte de Francisco não é só a morte do Papa, é o desaparecimento de um homem bom, o exemplo de alguém que o mundo admirava, pelo exemplo e pelas palavras. Ouvi um artista português dizer na rádio que, tendo estado junto a Francisco nas Jornadas Mundiais da Juventude de Lisboa, “mesmo não acreditando em Deus, estar junto ao Papa deu-me uma vontade de acreditar, para com ele poder rezar.” Francisco deixa-nos um vazio que temos medo de não ver preenchido. Depois de João Paulo II ficou-se com a imagem de um Papa simpático e acolhedor, e o medo de nunca se voltar a ter outro assim. Felizmente tivemos Francisco. Apetece-me ouvir de novo as palavras de João Paulo II, “Não tenhais medo.”, o conclave começa dentro de dias e aproxima-se o 13 de maio. Depois de Francisco, não podemos voltar atrás.

Uma semana depois mais um apagão. Desta vez colocou o nosso país sem energia elétrica durante mais ou menos 10 horas. E pior do que sem energia elétrica, foi ter estado sem comunicações. De um momento para o outro, os portugueses viram-se sem comunicações móveis, sem internet e sem redes. E agora!? Que fazer!? Muitos descobriram que podiam ir para a rua falar com os vizinhos, fazer uma caminhada, jogar às cartas com os filhos ou simplesmente ler um livro. Outros, talvez alarmados porque na rádio alguém disse que a situação podia durar horas, ou dias, apressaram-se a comprar água, velas e rádios a pilhas, isto obviamente aqueles que tinham dinheiro físico (moedas e notas)! Estranhei de facto ver filas enormes de gente a meter combustível e comprar água, e assustava-me pensar que a situação pudesse durar dias… seria decerto a anarquia. Os políticos não perderam tempo a atirar as culpas de uns para os outros. Mesmo sem ter conhecimento sobre a matéria, e não me apetecendo fazer uma pesquisa sobre o assunto, acredito que Portugal tem barragens suficientes e eólicas mais do que bastantes para se autossustentar, ou se não tem, podia perfeitamente ter. Mas percebo que estejamos dependentes da Europa, mais propriamente da nossa vizinha Espanha, por uma questão de preço. É triste ser um país pobre. Nas próximas semanas teremos mais alguns apagões no nosso país. Desde logo o apagão futebolístico que irá atingir um dos grandes clubes de Lisboa, pois só um será campeão. Pode ficar tudo decidido no próximo fim-de-semana, antes ainda desta crónica chegar às mãos dos leitores do Notícias de Coura, embora prefira que os verdes ganhem, não irei sofrer se for ao contrário, pessoalmente já sofri com o apagão que atingiu nas últimas semanas o meu Desportivo de Chaves, pois já não é este ano que regressa à primeira divisão. Politicamente, tenho a certeza de que no próximo dia dezoito haverá alguns apagões, desde logo o da estabilidade política pois só por milagre a coisa será diferente. Mas sobre apagões políticos deixo isso para a próxima crónica, cujo título já tenho preparado: Eleições legislativas: quando serão as próximas?


Crónica publicada na edição 501 do Notícias de Coura, 13 de maio de 2025





segunda-feira, 5 de maio de 2025

Idiotas nas redes sociais

Já lá vão quase cinco anos em que intitulei uma crónica de “Tu és o quê!? Influencer!?”. Desta vez volto ao tema por motivos que me irritam ainda mais. As redes sociais continuam cheias de “conteúdo”, que de conteúdo pouco ou nada têm, e pior, tornaram-se um espaço aberto a idiotas, bandidos e outros de igual espécie. Eu também passo algum tempo nas redes sociais, por motivos pessoais e profissionais, e também eu vejo algumas idiotices que por lá andam, mas apenas para me rir durante uns bons minutos por dia! Confesso que nunca tinha ouvido falar do Tiago Grila nem do F7. (Sei bem que dar importância e tempo de antena a este tipo de gente é o que eles querem, faço-o para aliviar a minha indignação.)

Tiago Grila confessou numa entrevista que a coisa mais louca que tinha feito era ter atropelado uma pessoa e fugido, ia agarrado ao telemóvel e estava a chover, e até refere o local. Logo que o caso foi tornado publico, devia ter sido imediatamente detido pelas autoridades. Mas não. Foi para Angola de férias, e quando regressou ainda avisou a CMTV para o esperar no aeroporto, onde pronunciou a frase “Por cima dos que andam, há os que voam.”, que imediatamente ficou na memória de alguns adolescentes. Quando ouvi isto de um dos meus alunos disse-lhe imediatamente: - Essa frase idiota tu consegues decorar, agora a password de administrador dos computadores tens sempre de ir ver ao telemóvel. Alguns dias depois de regressar, e sem que as autoridades se decidam a prender o artista pelo menos para prestar declarações, eis que se filma à frente de uma esquadra da GNR a rir e a ironizar com toda esta situação. Eu não vivi no tempo da ditadura, mas já ouvi falar do que se fazia, se fosse nesse tempo, este artista decerto não faria mais filmes desses a rir, ou pelo menos não o faria com a mesma quantidade dentes.

Numa outra situação difícil de caraterizar em palavras, pelo menos em palavras que eu possa aqui escrever, sabemos da notícia que três jovens foram detidos por suspeitas de terem violado uma rapariga de 16 anos e depois divulgado imagens do crime nas redes sociais. Um deles é F7, mais um conhecido influencer digital. (Quem, tal como eu, nunca tinha ouvido falar do artista, fica agora a conhecê-lo.) Tudo isto, a ser verdade, é demasiado mau. E comprovando a Lei de Murphy, não há nada que esteja mal que não possa piorar. A partilha das filmagens nas redes sociais é abominável, mas a visualização das mesmas por milhares de pessoas sem ninguém as ter denunciado é também imperdoável. Os jovens acusados vieram entretanto defender-se, afirmando que tudo é mentira e que nada daquilo é verdade. A forma como o fizeram é também ela de péssimo mau gosto, num vídeo em que estão a rir, afirmam que não é verdade pois não eram três jovens, eram quatro. Quanto à rapariga supostamente violada, lê-se que marcou um encontro com um jovem seu conhecido e que depois apareceram mais dois. É mais um caso do perigo que correm os jovens e adolescentes com a presença constante nas redes sociais. Ouvi há dias na televisão um comentador dizer qualquer coisa parecida a esta: “Quando os Pais transformam o quarto dos filhos em locais com todas as condições, internet, computador, acessórios… estão de certa forma a compensá-los por alguma falta de tempo que têm para eles… ou falta de paciência.” Como eu todos os anos me farto de ensinar aos meus alunos, é importante ter cuidado com o que publicamos nas redes sociais e com as pessoas com as quais falamos, é importante que os Pais mantenham uma vigilância que os faça perceber que não é para os espiar, e que se os Pais tiverem confiança, não vão andar a espreitar tudo o que eles fazem online. (O Professor de TIC é um chato, todos os anos com a mesma conversa!) O problema das redes sociais é bem expresso pelas palavras do escritor Umberto Eco: “As redes sociais dão o direito à palavra a uma "legião de imbecis" que, antes destas plataformas, apenas falavam nos bares, depois de uma taça de vinho, sem prejudicar a coletividade.”

Acabo esta crónica a pensar já na próxima. Futebol e Eleições. Quanto ao futebol, não haverá dúvidas, quem chegar ao fim em primeiro será o justo campeão! Quanto às eleições… a confusão continuará dentro de momentos!


Crónica publicada na edição 500 do Notícias de Coura, 29 de abril de 2025