segunda-feira, 14 de abril de 2025

As minhas pessoas de Coura: os HeM!

Feita a promessa na crónica anterior, aqui fica a primeira das crónicas que pretendo dedicar a algumas das pessoas de Coura que ao longo de treze anos fizeram parte da minha vida. Naturalmente que não poderei falar de todas elas, portanto não se admirem se o vosso nome não constar das mesmas, seria um trabalho que só estaria pronto lá para a edição dois mil do Notícias de Coura, jornal que decerto viverá por muitos anos, já o mesmo não se poderá dizer aqui do autor! Num conjunto de crónicas desta natureza, não poderiam os HeM ocupar outra posição que não a primeira!

Foi no dia 28 de outubro de 2009 que um grupo de homens e mulheres (HeM… mas que grande imaginação!), se juntou para um encontro de futebol amigável no pavilhão municipal. Carla Pereira, Sofia Brito, Eu, Xina, (Vânia, Sandrina, Sylvie, jogadoras do Castanheira), Carolina Carvalho e Rita Rosa (estavam lá também, ainda eram crianças), Aurora Teixeira, Padre Fernando, Paulo Rosa, Alexandrina Cardoso, Paulo Castro, Rosa Gama, Isabel Dantas, Garrido, Jorge Lages, Padre Meira e Carlos Barbosa! Como é que eu sei os nomes desta gente toda? É fácil… o Facebook ajudou-me, estão todos na fotografia! A todos estes juntaram-se ao longo dos tempos muitos outros: Aida Cunha, Sandra Santos, Alice Silva, Pedro Morgado, Sérgio Moreira, Rosa Silva, Catarina Esteves, Tiago Cunha, Helena Cunha, Marlene Almeida, Bruno Cerqueira, Cátia Silva, Ângela Vilhena, Cristina Lima, Rui Gonçalves, Andreia Brandão, Filipe Brito, Graça Silva, Eduardo Rocha… se me esqueci de alguém, peço desde já profundas desculpas.

Aquilo que começou por ser um grupo de pessoas que se juntava para dar uns toques na bola, acabou por se transformar num grupo de amigos, começamos por marcar uns jantares depois da bola para recuperar as forças, e pouco depois até já havia um presidente! Após cada jantar nomeava-se uma comissão para organizar o próximo evento: não havia só o jogo de futebol ou outra atividade desportiva, havia depois o jantar e atividades de entretenimento! Desafios, anedotas, histórias e cantorias… onde nunca faltava a música do Chico Zarolho! São tantas as lembranças que me estão a vir à memória que quase não tenho tempo de tomar nota delas para não me esquecer. Deixo aqui apenas algumas, acredito que para alguns leitores isto pouco signifique, outros vão decerto lembrar-se deste grupo de gente à porta do Barbaças, quanto aos HeM, vão adorar que eu lhes traga estes momentos à memória!

Uma certa noite, trajados a rigor, resolvemos ir cantar o hino nacional junto aos mastros das bandeiras que se encontravam à frente da Câmara Municipal. (A ideia era fazer um vídeo surpresa para o grupo.) Meios envergonhados fomos filmar à noite e acabámos por ser surpreendidos pelo Sr. Presidente da Câmara, Pereira Júnior que admirado nos cumprimentou! A partir do 2.º ano de existência começamos a comemorar os aniversários deste grupo, eram as famosas (entre nós), Galas dos HeM. Lembro-me de uma em particular onde a comissão organizadora chegou ao Barbaças com traje de cerimónia, num carro descapotável ao som da música da Guerra das Estrelas: apoteótico. Interessante também foi a oferta com que resolveram brindar todos os participantes: uma fotografia deles próprios, vestidos de gala, tirada num campo de futebol abandonado e cheio de erva seca! Alguém que nessa noite passou à porta do restaurante e viu tanta gente vestida de preto, ousou perguntar se éramos algum seita religiosa!

Num desses jantares, onde sempre fomos maravilhosamente tratados pela Nela e pelo Paulo, fomos interrompidos a meio do repasto por um estranho ardina da noite (o Rafael Pereira), que com gritos de surpresa anunciava uma edição extra do Notícias de Coura, uma edição especial com revelações bombásticas sobre os HeM! Uma edição igualzinha ao verdadeiro Notícias de Coura, fruto da ajuda Marlene Felisberto.

Estão-se a acabar as linhas, o que aqui fica é uma gota de água no oceano daquilo que vivi (vivemos) ao longo de muitos anos. Amizade, boa disposição, momentos de partilha que eram uma fonte de energia para o resto dos dias. Já escrevi em tempos que as terras pouco me dizem, o valor das terras está nas pessoas que conhecemos e nos momentos que se partilham. Um dia o Carlos Barbosa fez uma publicação no Facebook onde juntava a uma fotografia de Coura a frase: “Haverá terra mais bonita?” Quando me lembro dos HeM, tenho de concordar! Não há!

* Aproveito para solicitar à próxima comissão dos HeM que marque um jantar para um sábado. Temos saudades!


Crónica publicada na edição 499 do Notícias de Coura, 8 de abril de 2025



terça-feira, 1 de abril de 2025

Salvo pelos meus livros.

Falei de livros pela primeira vez na primeira crónica que escrevi para o Notícias de Coura, já lá vão mais de doze anos. Na altura era um prenúncio de que eles me podiam salvar quando tivesse dificuldade em arranjar assunto. Em 2023 dediquei-lhes uma crónica inteira, ousando dar a conhecer aos leitores alguns daqueles que me marcaram e ocupam um espaço importante da minha memória. Nas prateleiras, estão perdidos entre os mais de quatro mil que já habitam cá em casa. (Um exagero é verdade, obviamente que não os li todos, e provavelmente nem sequer o vou conseguir fazer até ao fim da vida, ainda por cima porque nunca se sabe quando ela se acaba.) Li há tempos, algures, qualquer coisa do género: “Para quê ter tantos livros? Para quê ler tantos livros se depois nos esquecemos das histórias de grande parte deles? Schopenhauer disse em tempos que “Seria bom comprar livros se pudéssemos comprar também o tempo para lê-los!” Provavelmente gastaríamos depois algum desse tempo a procurar e comprar mais livros! No meu caso, a sua companhia é extremamente agradável sente-se uma estranha paz rodeado pelo silêncio e pelo cheiro dos livros. E na sua leitura, viajamos para outras vidas e locais, na companhia de centenas de pessoas que jamais imaginámos conhecer.” Gosto imenso de passar horas em livrarias, especialmente em alfarrabistas e nunca saio de lá sem comprar pelo menos um livro. Pelo menos, pago pelo tempo que lá estive. Ler, é uma extraordinária terapia.

Uma das coisas que me dá um certo gozo é registar os livros que leio, embora só o faça desde 1999. Chego sempre ao final de cada ano com a certeza que podia ter lido mais, tanto em 2015 quando apenas li dois livros, como em 2023 em que atingi os cinquenta e cinco! Este ano estou preguiçoso, já estamos quase em abril e ainda vou no quarto livro. Há uns tempos recebi um deles pelo correio, uma gesto que apreciei. O livro chama-se “Armado em bom”, de Manuel Tinoco. Sim, esse mesmo, o Diretor do Notícias de Coura. Não tive de planear quando o começaria a ler, depois de o tirar do envelope comecei imediatamente. Gostei imenso, e não se trata de nenhum tipo de louvor ao “escriba”, como o Tinoco tanta vezes se intitula. Fez-me conhecer alguns dos momentos de uma vida que não foi decerto fácil, mas cheia de memórias, preenchidas de momentos, vivências e pessoas certamente marcantes. Lê-se no prefácio que Manuel Tinoco “Escreve para memória futura, dos que ainda cá estão e também dos que estarão quando muitos já não estiverem.” Escrever é isto mesmo, é guardar no papel aquilo de que a memória se pode um dia esquecer.

Enquanto escrevo esta crónica vou fazendo algumas paragens, a cada intervalo vou à sala e leio 10 ou 20 páginas de mais um livro que estou prestes a terminar. É uma leitura tão estranha, mas ao mesmo tempo tão fluída, que nem que vos queira dizer qual o livro, não me lembro, e também não me apetece levantar e ir ver o título! Coisa absurda pensarão vocês, talvez, mas eu só desisto da leitura quando ela é penosa. E agora que só me faltam dez ou doze linhas para terminar esta crónica não quero perder o ritmo. Mais do que ser salvo pelos livros, consegui fugir à tentação de escrever sobre política, sobre eleições, sobre casos e casinhos, sobre a guerra, ou sobre os absurdos de Donald Trump e do seu escudeiro Elon Musk. Não sei de aguentarei não voltar ao mesmo na próxima edição, vou tentar, mas por favor senhores políticos, não continuem a fazer coisas que não me deixem outra alternativa. Será para a próxima que escreverei sobre pessoas de Coura? Provavelmente. Só tenho um pequeno problema, é encontrar o papel onde em abril do ano passado anotei alguns nomes que fazem parte dessas minhas pessoas.

Ah, já sei, guardei-o no meio de um livro…

Crónica publicada na edição 498 do Notícias de Coura, 25 de março de 2025