segunda-feira, 17 de março de 2025

Vamos para eleições.

As últimas eleições legislativas foram há um ano. Parece que está na altura de voltar às urnas.

A atualidade política dos últimos dias tem sido marcada pelo caso dos negócios da empresa de Luís Montenegro, ou será melhor dizer da ex-empresa? Ou até, do ex-1.º Ministro!? Sobre este assunto não posso perder a oportunidade de deixar aqui algumas considerações:

- Luís Montenegro foi descuidado, desatento, irresponsável… ou então pensou que os jornalistas não lhe iriam vasculhar o passado e tentar descobrir qualquer coisinha! Pior, continua a pensar que somos todos parvos e achamos a situação normal. Eu até acredito na seriedade do homem, mas que não parece, não parece.

- Pedro Nuno Santos teve uma frase que explica tudo: “A empresa é Luís Montenegro.” E isso é óbvio. Não interessa quem são os acionistas, os funcionários ou os colaboradores, todas os clientes estão lá pela pessoa do 1.º Ministro. E não é pelo trabalho dele, porque provavelmente ele nem fazia nada, mas sim pela influência que um dia possa vir a ter. A maior riqueza que os políticos têm quando abandonam os seus cargos são os conhecimentos que trazem e as pessoas que conheceram, sabem melhor que ninguém como funciona o “sistema”, seja lá isso o que se quiser imaginar.

- O PCP caiu na armadilha do discurso de Luís Montenegro quando se apressou a dizer que iria apresentar uma moção de censura. Devia ter esperado. Bastava que toda a oposição afirmasse não ter confiança e, portanto, esperar pela apresentação da moção de confiança. Mas as coisas agravaram-se de tal forma no dia de hoje*, que a queda do governo está por dias.

- O Senhor Presidente tem andado calado, e bem, mas hoje não resistiu e até já fala em datas para as eleições. Nunca um Presidente convocou tantas eleições antecipadas como Marcelo Rebelo de Sousa. Espero que o próximo Presidente ponha os políticos todos em sentido!

- A menos que algo de muito escandaloso aconteça, temo que os próximos resultados eleitorais tornem o futuro ainda mais incerto. Embora eu gostasse que o Chega tivesse menos gente na Assembleia da República, a bem da imagem da instituição, receio que tal não aconteça. O eleitorado do Chega gosta daquilo que temos visto. Tal como o eleitorado de Donald Trump gostou da cena vergonhosa da conversa com Zelensky. Quanto ao vencedor das eleições até acredito que possa ser o PS, mas isso talvez seja o pior que pode acontecer a Pedro Nuno Santos. Como irá ele formar maioria? Dificilmente o PCP e o Bloco subam os seus já fracos resultados, e o Livre e o PAN não chegam para nada. Quem resta!? O Chega!? Iria o Chega viabilizar um governo de esquerda!?

- A minha previsão é uma aposta arriscada, mas que receio possa vir a acontecer: PS ganha, mas não consegue formar governo; PSD perde, Montenegro abandona a liderança e o próximo líder faz um acordo com André Ventura. Este é um cenário assustador, e que só não vai ser um desastre autêntico se o líder do PSD for alguém que consiga ter mão em André Ventura. Quem será!? Em 2021, num debate para as presidenciais, André Ventura demorou 6 segundos a responder à pergunta: “Seria mais fácil o Chega entender-se com o PSD se fosse Pedro Passos Coelho o presidente?” Será que ele vem aí de novo?

Termino com a certeza de que não me vai faltar assunto para as crónicas que se avizinham, a política nacional está a queimar. E assim se esquecem os problemas na saúde, na educação, na habitação, na criminalidade… ou será que já não existem?



* Escrevo este artigo um dia depois do prazo que normalmente cumpro. Se calhar até calhou bem, se o tenho escrito a tempo talvez o assunto fosse o mesmo, mas o título seria obviamente diferente, e muito menos atrativo!


Crónica publicada na edição 497 do Notícias de Coura, 11 de março de 2025







terça-feira, 4 de março de 2025

Não é liberdade de expressão, é falta de educação.

Já não é de agora que se ouve falar nos constantes insultos dos deputados do Chega, não só no hemiciclo como nos corredores da Assembleia da República.

Em 2024 a deputada Romualda Fernandes foi brindada com um jocoso “Boa noite!” por parte de um deputado do Chega quando em plena luz do dia a deputada abriu a porta da sala das comissões. Se a deputada fosse branca não haveria lugar a esta “brincadeira”. Pelos corredores, as deputadas socialistas queixam-se de serem chamadas de vacas e ouvirem mugidos por parte dos deputados do partido de André Ventura. Na verdade, o discurso destes deputados é tão pobre que se calhar é mesmo melhor ouvir um mugido ou um grunhido. Há dias, a deputada do PS Ana Sofia Antunes foi acusada pelo Chega de só falar de temas que incluem deficiências, uma ofensa gratuita e baixa a uma deputada que é invisual. O bate-boca que se seguiu foi vergonhoso, com Filipe Melo do Chega a dizer que Isabel Moreira do PS é uma aberração e estava drogada e Isabel Moreira a mandar o deputado do Chega pagar as pensões que deve aos filhos. (Isto é mais vergonhoso que as discussões que se ouvem nas piores tascas entre os piores bêbados do bairro.)

Dias antes, o ex-deputado do Chega Miguel Arruda, agora deputado não inscrito, tinha sido brindado durante o seu discurso de um minuto com algumas piadas: “Cuidado com a mala!”; “Camisas a 1 euro!”. Obviamente que ele se pôs a jeito, mas a Assembleia da República não é o lugar para estes comportamentos. O povo português tem de uma vez por todas de perceber que tipo de gente é que está a colocar na casa da democracia. É esta gente que tem o poder de legislar e condicionar o nosso futuro.

Obviamente que a educação vem de casa, e no caso de muitos deputados é notório que não se pode ter aquilo que se calhar nunca lhes deram. Não é fácil legislar a falta de educação, mas, o Sr. Presidente da Assembleia da República não pode esconder-se no argumento que a liberdade de expressão não pode ser limitada e que os portugueses, a seu tempo, condenarão nas urnas estes comportamentos. É altura de ter coragem de tirar a palavra a estes deputados e até de os mandar sair do plenário quando ofendem gratuitamente outros membros da Assembleia da República. É tempo também de todos os partidos que se sentem ofendidos deixarem de falar com o Chega, ignorar as suas intervenções e deixá-los a falar sozinhos. Tenham a coragem de quando cenas semelhantes se passarem abandonarem os seus lugares até que a ordem seja restabelecida. Nunca admirei a personalidade de Augusto Santos Silva e critiquei-o muitas vezes pela forma como lidou com André Ventura, mas a bondade e a pedagogia constante de Aguiar Branco já irritam, e pior, não funcionam. Estou prestes a concluir esta crónica profundamente irritado, como se diz por Trás-os-Montes, “não devemos gastar cera com ruins defuntos”, mas neste caso, é a única forma que tenho de ajudar a combater esta gente mal educada que não merece o reconhecimento que o povo português lhe decidiu dar. Não é pelo facto de ter escrito a palavra defunto que me lembrei de Pinto da Costa, que faleceu há poucos dias aos 87 anos. Nunca foi personalidade pela qual tive admiração, embora muitas vezes pelos caminhos errados, o F. C. Porto deve-lhe “quase” tudo aquilo que é hoje. Também nem sempre da forma mais correta nem com as palavras mais certas combateu aquilo que ele chamava de “centralismo de Lisboa”. Aquela história de “querer ver Lisboa a arder” é ao que parece um boato. Pinto da Costa provou que não é preciso incendiar nada para erguer a nossa voz e mostrar a nossa força. Há trinta ou quarenta anos Portugal era Lisboa, e o resto paisagem. Hoje, ainda é em Lisboa que se tomam as grandes decisões, mas o resto do país já percebeu que isso não é motivo para se sentir menos importante ou menos capaz. Até as pequenas terras já provaram que não precisam da capital para se sentirem, e serem o centro do mundo.


Crónica publicada na edição 496 do Notícias de Coura, 25 de fevereiro de 2025