domingo, 22 de dezembro de 2024

Já CHEGA disto.

No passado dia 29 novembro, e quando os deputados votavam o Orçamento de Estado e aprovaram o fim do corte de 5% no salário dos políticos, o partido Chega pendurou tarjas nas janelas da Assembleia da República (AR). O Presidente da AR, José Pedro Aguiar Branco, “considerou esta ação como um momento de vandalismo contra um património nacional” mas não teve a coragem de suspender imediatamente os trabalhos. Quando solicitou a André Ventura que retirassem as tarjas e este se negou a fazê-lo, não devia ter anunciado o que iria fazer, chamava os bombeiros para o fazer e a polícia para identificar os autores de tal vandalismo. E obviamente que é vandalismo, pois se fosse um qualquer cidadão que o fizesse seria preso imediatamente. A imunidade dos deputados não pode chegar para tudo. Faltou também coragem a todos os deputados que pediram a suspensão dos trabalhos e não a viram atendida pelo Presidente da Assembleia da República, deviam ter-se retirado, não estavam garantidas as condições de segurança e tal comportamento era uma séria forma de coação à votação do Orçamento de Estado. André ventura apressou-se a dizer que não era vandalismo, eu queria ver se fosse uma tarja a apoiar as touradas ou a causa LGBT o que ele diria.

Será que já se esqueceram da invasão do Capitólio nos EUA em 2021? E dos ataques aos palácios dos 3 Poderes no Brasil? Não se admirem se dentro de muito pouco tempo acontecer uma coisa parecida em Portugal. Basta ver o que se vai passando nas redes sociais, há grupo radicais infiltrados, especialmente de direita, que incendeiam tudo, querem é agitação, barulho, confusão.

Nos dias seguintes ouviram-se alguns deputados de partidos políticos de esquerda a acusar os deputados do Chega de serem insolentes e mal-educados na Assembleia da República. Não precisamos de provas para acreditar, obviamente que o são, mas dizer só na televisão não chega. Façam chegar essas queixas às autoridades, obriguem o Senhor Presidente da AR a ter pulso forte e coragem para mandar sair da AR os deputados que ofendem outros, porque tem esse poder. E se ele não o fizer, abandonem os trabalhos, ninguém é obrigado a estar no seu local de trabalho, ainda mais na casa da democracia, a ser humilhado dessa forma. Então aceita-se que quando a deputada do PAN, Inês Sousa Real fala sobre touradas, os deputados do Chega gritem “Olés”? Chamo-lhes deputados por respeito a este jornal e aos seus leitores, apetecia-me chamar-lhes outra coisa.

Concordo com algumas das coisas que André Ventura diz, que as fronteiras do país não podem estar escancaradas; que há crimes que deviam ter penas muito mais severas; que há apoios descontrolados a gente que simplesmente não quer trabalhar nem respeita as leis do país, mas jamais votarei num partido que envergonha a própria democracia, e mesmo que tenha vontade de fazer um voto de protesto, não será certamente no Chega. Haja paciência, ninguém tem mãos para pôr esta gente no seu devido lugar? O povo tem mãos, tem pelo menos a mão que segura a caneta no dia do voto. É isto que querem?

Vou terminar com dois ou três apontamentos distintos. Ruben Amorim seguiu o seu sonho e foi para Inglaterra, não tenho dúvidas que será feliz. O Sporting bem tentou disfarçar a perda, mas a avaliar pelos últimos resultados está num período de luto que se recusa a aceitar, e tenho pena. Apesar de não ser sportinguista, habituei-me a gostar das vitórias de uma equipa com um grupo de adeptos fantástico, não mereciam estar a passar por isto. Mas no futebol, quem manda é o dinheiro, temos mesmo de nos habituar! Cá por Portugal também o F.C. Porto vive uma crise de resultados e de falta de dinheiro, mas pelo menos sente-se uma limpeza e honestidade no clube que há muitos anos não se via. Talvez seja melhor assim. 2024 está a acabar, um ano marcado pelo regresso de Donald Trump, pelo escalar da guerra no Médio Oriente e na Ucrânia, por tragédias climáticas, algumas bem perto de nós; pela subida da extrema-direita em cada vez mais países. Se tudo isto não é uma terceira guerra mundial, não estará muito longe.

Desejos sinceros de um feliz Natal e de um próspero ano de 2025!


Crónica publicada na edição 492 do Notícias de Coura, 17 de dezembro de 2024



terça-feira, 10 de dezembro de 2024

Joe Biden: o incendiário.

Joe Biden “foi obrigado” a desistir da corrida às eleições presidenciais norte americanas por motivos meramente políticos. O partido democrata deu-se conta, tarde demais, que a sua idade e condição física, bem como o seu estado mental estavam a deitar tudo a perder, e as sondagens comprovavam-no semana após semana. Foi tão tarde que não lhes restou outra alternativa que não fosse atirar Kamala Harris para o campo de batalha. Durante uns dias a situação parecia querer mudar, mas no final, a derrota foi estrondosa.

Pelo mundo surgiram desde logo grandes indignações, presságios tão assustadores que me fizeram palavras de Passos Coelho quando em 2016 se despediu dos deputados do PSD dizendo: “Gozem bem as férias que em Setembro vem aí o diabo.” Biden também se está a despedir dos Americanos e do Mundo, mas ao contrário de Passos Coelho ele não promete para janeiro a vinda do diabo, ele próprio abre já a porta ao diabo, convida-o a entrar e dá-lhe carta branca para fazer das suas. A decisão de autorizar a Ucrânia a atacar o interior da Rússia com mísseis de longo alcance é pura malvadez política, é uma decisão que põe em risco a segurança mundial, e é tomada única e simplesmente pelo facto de Donald Trump ter ganho as eleições. Trata-se de uma mera armadilha para Trump, para o obrigar a suspender esta decisão e passar por mau da fita! Ser o mau da fita é coisa que de certeza não preocupa minimamente Donald Trump.

Nunca percebi a justificação dada tanto pela América como pela Europa de não autorizar a Ucrânia a atacar, se ajudamos um país dando-lhe armas e munições não devemos impor condições sobre a forma como ele as vai utilizar. É a mesma coisa que dar uma esmola a um pobre e não o autorizar a comprar doces porque lhe vão fazer mal aos dentes. Indo buscar aqui uma inspiração futebolística, a melhor defesa é o ataque, e quem joga para empatar, normalmente perde. A América justificava a proibição de uso de mísseis por serem de fabrico norte-americano, mas a maior parte deles nem sequer são lá fabricados, são de fabrico francês e britânico, apenas tinham o sistema de navegação feito na América. Autorizar agora a Ucrânia a atacar é quase uma ofensa.

Entretanto, Putin mantém o seu discurso ameaçador, e enquanto não houver alguém que verdadeiramente lhe levante a voz, não vai mudar de tom. Na televisão Russa ouvem-se por vezes notícias que afirmam que “Conseguimos atingir Londres em 13 minutos e Paris em 9 minutos.” Putin afirma que testou um novo modelo de míssil balístico de médio alcance, mas que informou os EUA desse teste, que o mesmo foi um ensaio para agora poder começar a sua produção em série. Ao mesmo tempo, o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov, considerou que o uso pela Ucrânia de mísseis de longo alcance é um sinal claro de que o Ocidente quer escalar o conflito, e que vai responder diretamente a esses países, afirmando mesmo: “Quem está a lançar esses mísseis não é a Ucrânia, são os países que lhos forneceram.” E pior, Moscovo volta a justificar que o uso de armas nucleares pode ser a resposta a qualquer ataque a território russo.

O conflito está a entrar numa fase demasiado perigosa, e quem vai em janeiro ter um papel decisivo no seu desenvolvimento é, além de perigoso, louco… Donald Trump. Obviamente que não vai terminar a guerra com um telefonema. Nem lhe interessa muito, até porque já deve estar a ter grandes pressões do setor empresarial ligado ao armamento. Se a guerra acabasse, a quem essas empresas iriam depois vender armas e munições? Alimentar a guerra para os lados de Israel e do Irão não seria suficiente. Na minha humilde opinião, a Ucrânia nunca mais vai recuperar os territórios perdidos, e quanto mais tarde abdicar, mais território perderá. (E acredito mesmo que é isto que vai acontecer, Zelensky nunca irá aceitar perder um metro quadrado que seja.) Apesar de tanto a América como o Ocidente terem dito que nunca iriam deixar de apoiar a Ucrânia, mais tarde ou mais cedo vão fazê-lo. Se o não fizerem, teremos mesmo uma guerra de proporções mundiais. Países como a Noruega, Finlândia e Suécia já estão a preparar as suas populações para o pior. Talvez fosse o momento de outros também o fazerem.

Pela leitura das minhas últimas crónicas, os leitores do Notícias de Coura decerto acham que me tornei pessimista e um bocadinho depressivo. É melhor não lhes contar que tripliquei o stock de água, atum, massa, arroz e feijão. A minha geração nunca imaginou viver uma guerra, também nunca imaginámos viver uma pandemia.


Crónica publicada na edição 491 do Notícias de Coura, 3 de dezembro de 2024