Já estava destinado que nesta crónica teria de escrever qualquer coisa sobre as eleições americanas. Não me apetece é ocupar tanto texto a falar de Donald Trump, afinal, tenho quatro anos pela frente para o fazer. Desta forma, vou acrescentar mais três países à crónica, infelizmente por maus motivos.
América: Eu sei que me refiro aos Estados Unidos da América, mas, América sempre me soou melhor, a terra das oportunidades, uma terra que ainda desejo conhecer e que, volta meia-volta, me faz sentir um estranho arrependimento, se voltasse a ter quinze ou dezasseis anos, estudaria de forma diferente para emigrar! Mas vamos lá às eleições! Donald Trump foi reeleito, e desta vez ganhou em toda a linha. Mesmo que não se goste, mesmo que se ache um retrocesso, os americanos escolheram, e eles é que tinham de o fazer. Acho um absurdo fazer-se uma sondagem na Europa e concluir que se fossem os europeus a votar, Donald Trump teria pouco mais de vinte por cento. Apesar de ser um sujeito que diz disparates completamente absurdos, é notável ser eleito pela segunda vez para Presidente. E agora? Irá a Ucrânia perder rapidamente a guerra? Irão as mulheres perder os direitos reprodutivos? Irão os estrangeiros ser todos deportados? Esperemos que corra bem, os americanos é que escolheram, mas todo o mundo vai sentir os efeitos.
Espanha: As cheias trouxeram a morte e a tragédia à região de Valência. Sabe-se agora que as mensagens de alerta foram enviadas tarde demais, quando muitos as receberam já estavam retidos pela subida das águas. Tudo foi trágico, imagens desesperantes e surpreendentes, daquelas que só estamos habituados a ver na América ou em África. Para mim, algo que me chocou foi a demora no envio da ajuda. Não é de estranhar que o povo se tenha revoltado contra os políticos e até contra a família real. Na noite em que estou a escrever esta crónica vejo que se prevê chuva muito forte para a região de Valência, chuva que chegará a Portugal dois ou três dias depois. Há dias vi na Internet uma imagem antiga da cidade de Valência, atualmente verifica-se que a cidade ocupou grande parte do que outrora era o rio. Lisboa fez o mesmo nos últimos cem anos. A capital portuguesa está condenada a uma tragédia, só não se sabe quando acontecerá.
Moçambique: Quase a completar cinquenta anos de independência, o país atravessa um dos piores momentos da sua história. Venâncio Mondlane, líder da oposição moçambicana, apela ao bloqueio do país reclamando vitória nas eleições. Os confrontos entre a polícia e a população já causaram vários mortos e feridos. Várias capitais de província estão a ferro e fogo. Sempre fui a favor da independência dos países e da sua autodeterminação, mas muitas das antigas colónias portuguesas nunca mais viveram tempos de paz depois da descolonização.
Portugal: Por cá, o que se passou nos últimos dias com a greve às horas extraordinárias dos serviços do INEM, é inqualificável. A não definição de serviços mínimos levou à morte de 11 pessoas. Não dá sequer para imaginar o desespero de alguém que liga para o INEM porque tem um familiar a morrer, e ninguém atende. E não dá para ter paciência com uma Ministra da Saúde que diz que não sabia do pré-aviso de greve ou que não esperava que tivesse tanta adesão. É mau demais. Obviamente que já se devia ter demitido. Para terminar, não posso deixar de escrever algumas linhas sobre Rúben Amorim. Vai-se embora aquele que foi o treinador mais correto e educado que por cá passou. Deixa o Sporting em 1.º lugar só com vitórias, deixa uma equipa aguerrida e com uma enorme vontade de vencer, que não acredito que vá deixar de ser campeã nacional. O clube e os adeptos despedem-se com lágrimas e com um obrigado merecido, um gesto tão bonito que só mesmo o Sporting seria capaz de ter.
Crónica publicada na edição 490 do Notícias de Coura, 19 de novembro de 2024