terça-feira, 30 de abril de 2024

E se escrevesse sobre pessoas de Coura?

Ando a navegar na Internet desde as sete da manhã à procura de algum assunto que me inspire a escrever mais uma crónica para o Notícias de Coura, até agora sem sucesso. Na verdade, há imensos assuntos que me dão vontade de escrever, mas são todos sobre política nacional, e como prometi afastar-me destes temas durante uns tempos, vou cumprir. Nem mesmo para criticar a falta de coragem do Ministério da Educação para acabar de vez com as inúteis provas de aferição. Comigo, não é não… onde é que eu já ouvi isto!?

Nas pesquisas de notícias sobre Paredes de Coura aparecem-me coisas engraçadas, uma prova de BTT internacional, a criação de um centro de dia e um fundo de reformas para os trabalhadores da Kyaia, a vitória concelhia do PS nas legislativas, e umas mil notícias sobre o Festival! Nada do que poderia escrever traria aos leitores algo de novo, algo que não saibam muito melhor que eu.

Lembrei-me de escrever novamente sobre os meus livros, mas ainda o fiz há pouco, foi em fevereiro de 2023. Alguns leitores ainda devem estar recordados, é melhor deixar este assunto para 2025 ou 2026. Entretanto, lembro-me de um tema que já muitas vezes me passou pela cabeça, mas que nunca arrisquei a colocar no papel: “- E se eu arriscasse e finalmente começasse com este tema? E se aproveitasse esta crónica para o apresentar, mas só daqui a algumas semanas ou meses começasse verdadeiramente a aprofundá-lo?” Como nada mais tenho em mente, cá vai então!

Vou perguntar ao Tinoco se posso de vez em quando escrever sobre pessoas de Coura, podem não ser se calhar as mais conhecidas e famosas, mas são aquelas que trago no coração. Aquelas que fizeram com que os meus treze anos em Paredes de Coura me estejam guardados de forma especial nas memórias que todos os dias me assaltam. Aquelas pessoas que, como eu já escrevi em tempos, nos façam amar as terras. Perguntar ao Tinoco é uma forma de dizer, obviamente que ele vai ler este texto e assim fica já a saber o que aí vem.

Tomada esta decisão, crio imediatamente um ficheiro, ou seja, pego num papel e começo a escrever alguns nomes. Como são muitos, começo por criar categorias, as pessoas da escola, do teatro, dos cafés, restaurantes e lojas, dos HeM, e até da rua. Mesmo que só dedique meia dúzia de linhas a cada uma delas, tenho aqui assunto para, quando me sentir atrapalhado como agora, cumprir a minha obrigação com relativa facilidade. Esta é a minha crónica número cento e oitenta e quatro, não sei até quando os leitores terão paciência para me aturar, mas da mesma forma que em tempos sonhava chegar à crónica cem, tenho agora o desejo secreto de chegar à crónica duzentos! Até já pensei em publicá-las em livro, numa edição pessoal que não me custe os olhos da cara e me permita ficar aliviado para a compra dos presentes de Natal, ofereço o meu livro a toda a gente! Isto pode parecer vaidoso, mas sei de um grupo que um dia ofereceu a sua própria fotografia aos amigos! Mas este episódio, será um dia parte de uma crónica dedicada aos HeM!

Falta-me escolher o título da crónica, já pensei em “Pessoas de Coura”, “Amigos de Coura”, “Pessoas Inesquecíveis”, mas nenhuma delas me cativa. Penso então em “As minhas pessoas de Coura” e sinto que se ajusta. Coura porque foi lá que as conheci embora algumas não sejam de lá naturais, minhas porque foram elas que me fizeram ficar com Coura no coração, como dificilmente ficarei com outra terra. Está decidido. Agora que terminei a crónica é que lhe dei título. Sei que o título vai fazer com que muitos leitores acabem de a ler e perguntem: “Tanta conversa, e não falou de ninguém de Coura.” Não se zanguem, quem sabe um dia encontrarão o vosso nome por aqui!

Crónica publicada na edição 477 do Notícias de Coura, 23 de abril de 2024



segunda-feira, 15 de abril de 2024

Mais coisas que me irritam

Ao longo destes quase doze anos de crónicas no Notícias de Coura, já por três vezes tive o descaramento de escrever sobre coisas me irritam, sei bem que para muitos dos leitores isso até pode não ter interesse, mas, se forem como eu, a curiosidade é bem capaz de vos fazer ler até ao fim. No final, poderão estar a rir e pensar que também vocês se irritam com coisas parecidas ou então, lamentar o tempo perdido e pensar: - “Estive eu a perder cinco minutos com estes disparates!” Neste caso, fica sempre o ganho da leitura, que é o caminho mais curto para o conhecimento. *

Podia acrescentar aqui meia dúzia de linhas enumerando as minhas anteriores irritações, mas deixo à consideração dos leitores ir procurá-las no meu blog, caso tenham curiosidade em saber quais eram e ainda são. Aposto que muitas delas, são também coisas que vos irritam. Vamos então às mais recentes:

1. Condutores que fazem pisca nas rotundas! Refiro-me obviamente aos que fazem pisca para a esquerda e seguem em frente! Por vezes eu também faço pisca para a esquerda, mas é quando pretendo virar para a esquerda! Irritam-me antes da rotunda, embora já não me irritem depois, quando a meio da rotunda fazem pisca para a direita! Enfim, querem seguir em frente, mas experimentam fazer pisca para os dois lados, quase me apetecia escrever aqui uma piada política, mas prometi na anterior crónica que iria deixar a política por uns tempos.

2. Coisas à venda sem preço! Na rede social facebook são uma praga. Mesmo nos grupos de vendas onde a colocação dos preços é obrigatória, são inúmeras as pessoas que insistem em fazê-lo, depois têm mil comentários a perguntar o preço, e têm de responder mil vezes: “enviei mensagem privada.” Na grande maioria dos negócios o fator decisivo é o preço, é aquele que pode desde logo chamar a atenção dos interessados. Quando não é apresentado, deixa de ser um fator decisivo. Para mim, e acredito que para muitos outros interessados, é logo um fator de afastamento.

3. Oferecerem-me bolos ou garrafas de água quando peço um café. Tem-me acontecido ultimamente nas estações de serviço das autoestradas. Depois de pedir um café oiço sempre: “Não que acompanhar com uma nata? E uma garrafa de água?”. Das primeiras vezes ainda respondia que não, que era só o café, ultimamente limito-me à palavra “CAFÉ”, e sim, pronunciada um bocadinho mais alto; temo um dia destes ser vencido pelo meu mau feitio e dizer mais qualquer coisa. (Parei de escrever por uns minutos, fui à Internet e comprei uma minigarrafa térmica. Não volto a parar para tomar café!)

4. Receber certas notificações no facebook. Ter um perfil numa rede social faz-nos perder obviamente alguma privacidade e sossego, mas só se não soubermos ser cuidadosos. Ser notificado porque alguém comentou uma publicação nossa, ou gostou de algo que publicámos é normalmente agradável. As que ultimamente me têm irritado são aquelas com as hashtags @seguidores ou @destacar. Quem as faz tem a certeza de chegar a toda a gente, mas para quem as recebe podem simplesmente não ter interesse nenhum. Já deixei de seguir alguns grupos por causa disto. É que usarem-nas de vez em quando ainda se percebe, mas todos os dias é insuportável.

5. Noticiários televisivos. Adoro ver os canais de notícias portugueses, a minha televisão passa horas e horas ligada na SIC Notícias e na CNN Portugal, onde tenho muitas vezes pena de não conseguir ouvir simultaneamente os programas de debate e comentário político. Aquilo que me irrita profundamente são os noticiários principais do dia, tantas vezes me acontece mudar de canal porque não me apetece ouvir falar do conflito entre a Rússia e a Ucrânia, por exemplo. Não adianta mudar, têm quase sempre o mesmo alinhamento, e com diferenças de segundos as notícias são repetidamente as mesmas. É nestas alturas que vejo pela centésima vez os episódios do inspetor Max na TVI ficção!


E chega de irritações. Prometo só voltar a este tema daqui a dois ou três anos. Entretanto, vou começar já a pensar na próxima crónica, isto de ter prometido deixar a política de lado durante uns tempos está a deixar-me nervoso. Apetecia-me tanto escrever sobre certas coisas! 

* Aristóteles.

Crónica publicada na edição 476 do Notícias de Coura, 9 de abril de 2024



segunda-feira, 1 de abril de 2024

Chega de eleições.

Gosto imenso de acompanhar as noites eleitorais nos canais televisivos, só tenho mesmo pena de não conseguir ver e ouvir todos os comentadores ao mesmo tempo! Se tivesse paciência para tirar apontamentos ficaria com um rol imenso de contradições e de curiosidades para conseguir escrever meia-dúzia de crónicas! Para ser mais fácil e até mais interessante para os leitores, vou dividir este texto em tópicos, podem assim ler apenas aqueles que forem do vosso interesse.

Abstenção: Costuma ser uma das grandes preocupações dos comentadores e dos políticos. Uma abstenção elevada é sempre um bom argumento para qualquer tipo de resultado, quer se ganhe, quer se perca, embora normalmente nunca ninguém perca no nosso país. Desta vez, a abstenção baixou significativamente e isso beneficiou o partido Chega. Antigamente a abstenção era associada à falta de interesse pela democracia, agora é vista como como responsável pela mudança do sentido de voto dos portugueses, em direção a ideais ditatoriais. Dizia um comentador ainda antes das projeções: “Ainda vamos chegar ao final da noite a lamentar a descida da abstenção.”

Jovens: Ao que parece, os jovens voltaram a interessar-se pela política e não ficaram em casa. Ao que parece também, grande parte do eleitorado do partido Chega foi a classe etária abaixo dos 35 anos. Que irão dizer agora aqueles que acusavam os jovens de serem pouco interessados e pouco participativos na política do país? Como lhes explicar que têm de se interessar, mas não nessa direção!? Que lhes irão responder se eles questionarem: - “Mas então, a democracia não é mesmo isto!?”

ADN: Este partido subiu de dez para cem mil votos! Beneficiou claramente do descuido de muitos portugueses que certamente pretendiam votar na AD. Ou será que foi ao contrário? Como disse o seu líder: “Será que os portugueses não quereriam votar no ADN, e enganaram-se e votaram na AD?” Eu até acredito mais nesta última hipótese, o seu líder Bruno Fialho defende a reabertura do Tarrafal para enviar para lá tudo o que é bandidos, corruptos, homossexuais, estrangeiros… Ao pé do ADN, o Chega é inofensivo!

BE e PCP: Caíram no erro de passar a campanha toda a defender uma solução de esquerda e a colocarem-se prontos para dar a mão ao PS para uma nova geringonça. O resultado mostra que neste momento já servem para muito pouco. Escrevo isto com respeito, pois já em tempos e em diferentes tipos de eleições votei nestes partidos. Entristece-me ver o PCP desaparecer e continuar a insistir no mesmo discurso e nas mesmas posições. Ou é desta que se reinventam, ou nas próximas eleições desaparecem de vez.

PS e PSD: Ajudaram a criar o monstro, agora correm o risco de ser comidos por ele. O fim do bipartidarismo parece ser uma realidade e, com o avanço da chamada extrema-direita correm o sério risco de um deles desaparecer. Veja-se o que aconteceu em França. E está a acontecer na Europa.

Chega: Obviamente que foi o grande vencedor das eleições. Sentia-se claramente que teria mais votos e mais deputados, mas nem nos seus melhores sonhos André Ventura imaginou este resultado. Ter mais de um milhão de votos e quase cinquenta deputados é um resultado estrondoso. Nos últimos dias tenho visto muitos políticos, comentadores e jornalistas a relativizar estes números e a insistir na ideia de que o Chega pode não ser preciso para nada, nem para ninguém. Parece-me uma postura pouco democrática e muito arriscada. Este fenómeno pode não ser momentâneo.

Perdoem-me os partidos que não citei, mas o espaço para o texto começa a ficar pequeno e a minha paciência para a política é cada vez menos. (Mas não posso deixar de agradecer à política os tantos e tantos motivos que me tem dado para escrever!) Não prometo, mas vou tentar deixá-la fora das minhas crónicas durante uns tempos. A ela voltarei se se atreverem a não devolver o tempo de serviço aos Professores, promessa feita por todos os partidos, até por aqueles que tiveram a possibilidade de o fazer, e não fizeram.


Crónica publicada na edição 475 do Notícias de Coura, 26 de março de 2024