Crónicas publicadas no jornal Notícias de Coura desde outubro de 2012
terça-feira, 30 de abril de 2024
E se escrevesse sobre pessoas de Coura?
segunda-feira, 15 de abril de 2024
Mais coisas que me irritam
segunda-feira, 1 de abril de 2024
Chega de eleições.
Gosto imenso de acompanhar as noites eleitorais nos canais televisivos, só tenho mesmo pena de não conseguir ver e ouvir todos os comentadores ao mesmo tempo! Se tivesse paciência para tirar apontamentos ficaria com um rol imenso de contradições e de curiosidades para conseguir escrever meia-dúzia de crónicas! Para ser mais fácil e até mais interessante para os leitores, vou dividir este texto em tópicos, podem assim ler apenas aqueles que forem do vosso interesse.
Abstenção: Costuma ser uma das grandes preocupações dos comentadores e
dos políticos. Uma abstenção elevada é sempre um bom argumento para qualquer
tipo de resultado, quer se ganhe, quer se perca, embora normalmente nunca
ninguém perca no nosso país. Desta vez, a abstenção baixou significativamente e
isso beneficiou o partido Chega. Antigamente a abstenção era associada à falta
de interesse pela democracia, agora é vista como como responsável pela mudança
do sentido de voto dos portugueses, em direção a ideais ditatoriais. Dizia um
comentador ainda antes das projeções: “Ainda vamos chegar ao final da noite
a lamentar a descida da abstenção.”
Jovens: Ao que parece, os jovens voltaram a interessar-se pela política e não
ficaram em casa. Ao que parece também, grande parte do eleitorado do partido
Chega foi a classe etária abaixo dos 35 anos. Que irão dizer agora aqueles que
acusavam os jovens de serem pouco interessados e pouco participativos na
política do país? Como lhes explicar que têm de se interessar, mas não nessa
direção!? Que lhes irão responder se eles questionarem: - “Mas então, a
democracia não é mesmo isto!?”
ADN: Este partido subiu de dez para cem mil votos! Beneficiou claramente do
descuido de muitos portugueses que certamente pretendiam votar na AD. Ou será
que foi ao contrário? Como disse o seu líder: “Será que os portugueses não
quereriam votar no ADN, e enganaram-se e votaram na AD?” Eu até acredito
mais nesta última hipótese, o seu líder Bruno Fialho defende a reabertura do
Tarrafal para enviar para lá tudo o que é bandidos, corruptos, homossexuais,
estrangeiros… Ao pé do ADN, o Chega é inofensivo!
BE e PCP: Caíram no erro de passar a campanha toda a defender uma solução de
esquerda e a colocarem-se prontos para dar a mão ao PS para uma nova geringonça.
O resultado mostra que neste momento já servem para muito pouco. Escrevo isto
com respeito, pois já em tempos e em diferentes tipos de eleições votei nestes
partidos. Entristece-me ver o PCP desaparecer e continuar a insistir no mesmo
discurso e nas mesmas posições. Ou é desta que se reinventam, ou nas próximas
eleições desaparecem de vez.
PS e PSD: Ajudaram a criar o monstro, agora correm o risco de ser comidos por ele.
O fim do bipartidarismo parece ser uma realidade e, com o avanço da chamada extrema-direita
correm o sério risco de um deles desaparecer. Veja-se o que aconteceu em
França. E está a acontecer na Europa.
Chega: Obviamente que foi o grande vencedor das eleições. Sentia-se claramente
que teria mais votos e mais deputados, mas nem nos seus melhores sonhos André
Ventura imaginou este resultado. Ter mais de um milhão de votos e quase
cinquenta deputados é um resultado estrondoso. Nos últimos dias tenho visto
muitos políticos, comentadores e jornalistas a relativizar estes números e a
insistir na ideia de que o Chega pode não ser preciso para nada, nem para
ninguém. Parece-me uma postura pouco democrática e muito arriscada. Este
fenómeno pode não ser momentâneo.
Perdoem-me os partidos que não citei, mas o espaço para o
texto começa a ficar pequeno e a minha paciência para a política é cada vez
menos. (Mas não posso deixar de agradecer à política os tantos e tantos motivos
que me tem dado para escrever!) Não prometo, mas vou tentar deixá-la fora das
minhas crónicas durante uns tempos. A ela voltarei se se atreverem a não
devolver o tempo de serviço aos Professores, promessa feita por todos os
partidos, até por aqueles que tiveram a possibilidade de o fazer, e não fizeram.