Uma das mais emblemáticas atrações turísticas da cidade de Lisboa foi palco de uma tragédia. O Elevador da Glória soltou-se do cabo que o segurava e só parou quando embateu num prédio, morreram dezasseis pessoas. Que o problema foi do cabo deu logo para perceber, bastava ver as imagens dos técnicos que seguravam um cabo de aço completamente estilhaçado. Soube-se nos últimos dias que o atual cabo já não era totalmente em aço, mas tinha o interior em plástico. Apetecia-me escrever nesta crónica que não lembra a ninguém, nos dias de hoje, com tanta tecnologia à disposição e com sistemas de segurança tão avançados, ainda ter um sistema destes em funcionamento, ou seja, duas cabines presas por um cabo e que quando uma sobe a outra desce. Que coisa tão atrasada, pensei. Mas agora, sou quase obrigado a admitir que funcionava, e era seguro há mais de cem anos, ao que parece só falhou quando resolveram substituir o cabo por um mais barato, perdão, por um cabo mais leve. Imperdoável é mesmo assim saber-se que o travão operado pelo guarda-freios era meramente decorativo e nunca teria sido capaz de evitar a tragédia, ainda que o cabo fosse extremamente seguro, tinha de haver uma solução para se um dia ele falhasse.
Como em todas as tragédias, por mais respeito que os políticos tenham nas primeiras horas não conseguem por muito mais tempo deixar de aproveitar o momento para tirar dividendos políticos. Obviamente que iria ser pedida a demissão de Carlos Moedas e naturalmente que o caso iria ser comparado ao da demissão de Jorge Coelho. Nada que espante quem estiver atento ao que é a política atual. O que é certo é que passaram alguns dias, e já pouco se fala sobre o assunto, ele voltará ao debate na campanha das legislativas, as televisões voltarão a convidar para o debate os especialistas do costume quando for publicado o relatório oficial das causas do acidente e poderá ser o acontecimento que ditará a derrota nas eleições de Carlos Moedas. Daqui a algum tempo, a tragédia só será lembrada pelos familiares e amigos daqueles que perderam os seus entes queridos.
E porque não quero só falar do Elevador da Glória, eis que outro elevador me parece completamente descontrolado, embora este pareça que está a subir. O Chega aparece à frente numa das últimas sondagens publicadas. André Ventura parece descontrolado com tamanha boa notícia, parece que já nem dorme, deve trabalhar nas vinte e quatro do dia, e talvez outras tantas durante a noite! Fala sobre tudo e sobre nada, está em todo o lado, e prepara-se para ser de novo candidato à Presidência da República.
O Chega é André ventura, e a única forma do partido não ter uma votação triste e conseguir mobilizar os eleitores é ser Ventura o candidato. Obviamente que ele não quer ganhar, quer apenas ir à segunda volta para depois obrigar todos os outros a votar contra e vitimizar-se. Imaginem que na segunda volta tínhamos Ventura e Marques Mendes! Lá teria a esquerda de apelar ao voto no homem do PSD! E se fosse Ventura e Seguro? O PSD estaria em apuros, decerto iria dar liberdade de voto aos seus eleitores para não irritar Ventura. Se Ventura for à segunda volta com Gouveia e Melo, será a esquerda a colocar um militar em Belém. Avizinha-se um combate interessante, e mais uma vez a divisão de candidatos à esquerda pode ser decisiva, bem como a indecisão do PS em apoiar António José Seguro. Há quem diga que a melhor forma de acabar com o Chega é eleger Ventura para Presidente! Valerá a pena correr o risco!? Estarão os portugueses loucos a este ponto!? (Os brasileiros elegeram Bolsonaro, e os Americanos, Trump… duas vezes). Querer acabar com o Chega é uma maldade dizia há dias um humorista, “é que aquilo é uma fonte rica em piadas e patetices!” E agora, até o seu líder já não se fica só pelas mentiras como inventa coisas no mínimo absurdas e ridículas, aquela história do Presidente da República ir a um festival de hambúrgueres é do mais patético que já se ouviu. O pior, é que há povo que acredita e acha muito bem.
Num país assim, mais vale ir pela escada que apanhar o elevador.
Crónica publicada na edição 509 do Notícias de Coura, 23 de setembro de 2025